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Vereadores ignoram greve dos rodoviários por reajuste salarial e manutenção dos cobradores

Trabalhadores pedem reajuste de 12%, além da manutenção dos cobradores. Prefeito propõe retirada gradual, mas impasse continua.

Escrito por
Rhyvia Araujo
April 15, 2025
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Reprodução/CMM e João Viana / Semcom

Apenas 5 dos 41 vereadores da Câmara Municipal de Manaus (CMM) se manifestaram, até o momento, sobre a greve do transporte coletivo, iniciada na madrugada desta terça-feira (15/04). A paralisação, liderada por rodoviários, reivindica um reajuste salarial de 12%, além da manutenção dos postos de trabalho dos cobradores.

Somente Zé Ricardo (PT) e Coronel Rosses (PL) levaram à tribuna o tema da greve no transporte coletivo, que pode afetar diretamente cerca de 500 mil pessoas na capital. Rosses cobrou o cumprimento de promessas feitas pelo prefeito David Almeida (Avante) durante a campanha eleitoral de 2024, quando, segundo o parlamentar, o Chefe do Executivo teria garantido que os cobradores seriam mantidos nas funções.

“O prefeito, ano passado, em alto bom tom afirmou na sua campanha política que não mexeria com essa classe, que não tocaria nos cobradores. Não crie expectativas em 2 mil pais de família que hoje estão à mercê de perderem seus empregos”, cobrou o vereador.

Contribuindo com o discurso, Zé Ricardo afirmou que os maiores prejudicados são os usuários e os próprios trabalhadores, enquanto os empresários não sentem o impacto da paralisação. O petista também questionou a aparente omissão dos vereadores da Câmara Municipal no enfrentamento do problema, cobrando uma atuação mais firme do Legislativo.

“Qual outra explicação? O resto é pra enganar as pessoas, não sei se essa Casa também. Fico impressionado com o silêncio do prefeito de Manaus, parece que a Prefeitura não tem nada a ver, é o povo, o sindicato dos trabalhadores contra a empresa. É tudo colocado pra ficar nesse embate e aí o prefeito fica tranquilo nessa história. Ninguém cobra!”, disse Zé Ricardo.

Já quando os vereadores Gilmar Nascimento (Avante) e Raiff Matos (PL) foram questionados pelo Diário da Capital sobre o assunto, ambos adotaram um tom conciliador. Apesar de reconhecerem a gravidade da situação, eles evitaram críticas diretas ao Executivo e defenderam o diálogo como caminho para solucionar o impasse.

“Se temos uma lei, ela precisa ser respeitada. O prefeito cumpre a lei. Agora, é preciso diálogo para entender a razão da substituição dos cobradores. O que nós, vereadores, queremos é a manutenção desses empregos ou alternativas reais para que essas pessoas não sejam demitidas”, disse Nascimento.

Para Raiff Matos (PL), a greve é consequência de um problema antigo, agravado pela falta de planejamento. “Isso é um debate que acontece há muitos anos, não só nessa legislatura, e precisa amadurecer a ideia. (…) A política está aí pra isso, pra fazer com que as famílias sejam beneficiadas na cidade de Manaus”, afirmou o vereador.

Embora não tenha participado da sessão plenária desta terça-feira, o vereador Jaildo Oliveira (PV) afirmou que passou a manhã ao lado dos trabalhadores do transporte coletivo, acompanhando de perto a mobilização da categoria. Em entrevista ao Diário da Capital, o parlamentar contestou as justificativas apresentadas para a retirada dos cobradores e classificou a medida como prejudicial não apenas aos trabalhadores, mas à qualidade do serviço prestado à população.

Jaildo também defendeu o fortalecimento da Lei Municipal nº 2.923/2022, que garante a permanência dos cobradores nos ônibus da capital. Entre as modificações previstas, estão multas que variam de R$ 100 mil a R$ 300 mil, aplicadas de forma progressiva. Em caso de reincidência, o vereador propõe a revogação da concessão da empresa infratora. A proposta de modificação da lei, segundo Jaildo, já foi protocolada na Casa e deve entrar na pauta de votação amanhã (16/04).

O vereador ainda alegou que a retirada dos cobradores pode resultar em acúmulo de funções.

“O motorista vai ter que dirigir, cobrar, fazer várias funções. Há desvio de função ali do motorista. Vai sobrecarregar o motorista e isso nós não vamos aceitar, inclusive eu ainda estou indo lá na OAB procurar lá o presidente da Comissão de Transporte da OAB também porque é prevista na legislação que o motorista não pode dirigir com o celular, mas ele pode passar troco?”, reclamou.

Segundo o parlamentar, se as empresas continuarem insistindo na retirada dos profissionais sem qualquer respaldo legal, medidas judiciais mais severas serão adotadas — incluindo o pedido de prisão do presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Amazonas (Sinetram).

Discussão ocultada

As discussões do transporte coletivo, por outro lado, foram ofuscadas pelo atrito dos vereadores Pai Amado (Avante) e Rodrigo Guedes (PP). O conflito teve início após o vereador Pai Amado acusar Guedes de expor publicamente sua mãe, de 80 anos, por meio de um vídeo divulgado nas redes sociais. A gravação mostra uma denúncia sobre um buraco na rua onde reside a idosa, no bairro Japiim, zona Sul da capital. Segundo Pai Amado, o colega teria apontado diretamente para a casa da senhora, comprometendo a privacidade e segurança. Guedes, por outro lado, alegou que o vídeo foi gravado na rua, mas sem identificar a casa do parlamentar.

O episódio gerou incômodo entre outros parlamentares presentes, que demonstraram preocupação com o rumo da sessão. O vereador Marcelo Serafim (PSB) pediu mais equilíbrio da Mesa Diretora na condução dos trabalhos e destacou a necessidade de retomar o foco nos temas de interesse coletivo.

Prefeito se posiciona 

Pressionado pela greve e pelas cobranças, o prefeito David Almeida afirmou que a Prefeitura está tentando construir um acordo que contemple os dois lados. Segundo ele, a gestão não compactua com uma retirada abrupta dos cobradores e deseja uma transição tecnológica mais planejada em um prazo de quatro anos.

 “A prefeitura entende que as duas partes têm razão. Estamos buscando o diálogo para tentar encontrar um denominador comum. Para que essa retirada [dos cobradores] seja de forma gradual, em 3 ou 4 anos, e não da forma como está sendo proposta”, disse o chefe do Executivo. 

O Diário da Capital questionou a Prefeitura de Manaus como será feito esse planejamento, mas até a publicação desta matéria não houve retorno.

Greve pode se intensificar

A paralisação começou com funcionários da empresa Via Verde, mas já se estende a outras operadoras, segundo os profissionais. De acordo com a categoria, a greve está dentro da legalidade, respeitando o funcionamento de 70% da frota nos horários de pico e 50% nos demais horários. 

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