Manaus amanheceu nesta terça-feira (15) com a paralisação parcial do transporte coletivo da capital, em meio à greve dos rodoviários por reajuste salarial de 12% e melhores condições de trabalho. A mobilização da categoria ocorreu após uma decisão judicial que determinou limites para a paralisação, visando minimizar os impactos à população.
O Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região (TRT-11) acatou parcialmente o pedido do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Amazonas (Sinetram) e determinou que o Sindicato dos Rodoviários mantenha 70% da frota em operação nos horários de pico — das 6h às 9h e das 17h às 20h — e 50% nos demais períodos. O descumprimento poderá gerar multa de R$ 60 mil por hora.
A decisão também proíbe bloqueios nas garagens das empresas e exige que manifestações ocorram a uma distância mínima de 150 metros das entradas dos estabelecimentos, sob a mesma penalidade.
Em nota oficial, o Sinetram reforçou o compromisso com a população e afirmou estar aberto ao diálogo com a categoria: “Sempre estivemos abertos ao diálogo com os representantes da categoria, sem necessidade de paralisações”, diz o comunicado.
No entanto, os trabalhadores afirmam que há insatisfação crescente, não apenas pela ausência de avanços salariais, mas também pelas mudanças no setor, que ameaçam diretamente os postos de trabalho dos cobradores. Segundo relatos, o número desses profissionais deve ser reduzido de forma drástica, o que causa insegurança e indignação.
A cobradora Lizete Lemos, de 64 anos, que atua há 15 anos na função, expressou preocupação com o futuro da categoria: “Vai ficar um monte de cobrador desempregado. A gente depende desse salário, tem aluguel, quem tem filho pequeno. […] Querem que o motorista dirija e ainda cobre passagem. Isso vai atrasar os ônibus e sobrecarregar os motoristas”, afirma.
Lizete também denuncia que, a partir de junho, mudanças internas nas empresas podem forçar cobradores a assumirem outras funções operacionais, como lavar ônibus ou atuar em áreas da mecânica — uma realidade que preocupa especialmente os trabalhadores mais antigos.
“Já estão querendo até mudar a gente de função. Ou vai para a lavagem de ônibus ou para a mecânica. Eu sou uma senhora, não tenho mais condição. […] Os poucos que ficarem como cobradores serão exceção.”
A categoria teme que a extinção do cargo de cobrador agrave a precarização do serviço e afete diretamente a qualidade do transporte coletivo na cidade. Para os trabalhadores, o movimento grevista é uma tentativa de frear o desmonte progressivo do setor e garantir dignidade àqueles que dependem do transporte tanto para trabalhar quanto para sobreviver.