Após mais de um mês de greve, os servidores do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) chegaram a um acordo com o Ministério da Gestão e Inovação (MGI) nesta segunda-feira (12). A proposta, que prevê um aumento salarial de até 23% para servidores de nível médio e 21% para os de nível superior até 2026, foi aceita, mas com fortes críticas da categoria. As assembleias serão realizadas até quinta-feira (15) para decidir sobre o fim da paralisação.
Embora o aumento salarial represente um avanço, os servidores ambientais demonstraram insatisfação com o rebaixamento da pauta imposto pelo governo. Na prática, não haverá aumento salarial, uma vez que o reajuste foi colocado para o final da carreira. No Amazonas, a rejeição foi unânime. Um servidor do Ibama, que preferiu não ser identificado, afirmou que a proposta do governo “enterra a carreira ambiental no Brasil”.
Segundo ele, o aumento salarial acordado só terá efeito no final da carreira, prolongando ainda mais o tempo de serviço necessário para se alcançar melhores remunerações. “É o fim da carreira ambiental”, lamentou.
A frustração dos servidores se deve, em parte, à diferença entre o que foi inicialmente proposto e o acordo final. A proposta original previa que o salário inicial de um analista seria equiparado ao de outras carreiras de estado, alcançando R$ 15.327,29. No entanto, o valor acordado foi de apenas R$ 9.736,00, bem abaixo do solicitado pela categoria.
A Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente e do Plano Especial de Cargos do Ministério do Meio Ambiente e do Ibama (Ascema) criticou o desfecho das negociações em nota oficial, afirmando que o acordo está “muito distante da reestruturação almejada pela categoria.” A associação também acusou o governo de agir com intransigência durante as negociações e ressaltou que a assinatura do acordo foi feita “à contragosto” pelos servidores.
Apesar do fim iminente da greve, a mobilização dos servidores deve continuar. Em comunicado, os trabalhadores lembraram que o Brasil sediará a COP-30 em Belém, em 2025, e que continuarão lutando por melhorias na carreira ambiental.
“A greve deve acabar, mas a mobilização continuará, temos COP-30 em 2025 e muita luta pela frente, com um calendário de ações a ser elaborado nos próximos dias”, afirmaram.
A greve, que começou em 1º de julho, teve impactos significativos nas atividades do Ibama, especialmente no combate ao desmatamento. Um levantamento da Ascema mostrou que, entre janeiro e abril de 2023, foram aplicados 2.161 autos de infração, enquanto no mesmo período deste ano, foram apenas 389, uma queda de 82%. A própria ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, admitiu que a paralisação dos servidores contribuiu para o aumento de 33,2% nos alertas de desmatamento na Amazônia em julho de 2024, em comparação com o mesmo período do ano anterior.
O Governo Federal, que tem como uma de suas principais plataformas retóricas o combate ao desmatamento, agora enfrenta o desafio de reconstruir a confiança dos servidores ambientais, que se sentem traídos por um acordo que consideram insuficiente para valorizar a carreira e proteger o meio ambiente brasileiro.