Economia

Dia Internacional dos Povos Indígenas: artesanato impulsiona economia e preserva cultura no AM

Com raízes ancestrais e produção sustentável, o artesanato indígena fortalece a identidade dos povos originários e movimenta a economia no Amazonas

Escrito por Kataryne Dias
9 de agosto de 2025
Foto: Alberto César Araújo/Amreal

Neste sábado (9), é celebrado o Dia Internacional dos Povos Indígenas, data criada pela ONU para valorizar a diversidade cultural, os saberes tradicionais e os direitos dos povos originários em todo o mundo. No Amazonas, a força desses povos se destaca não apenas pela resistência histórica e espiritual, mas também pelo protagonismo econômico, especialmente por meio do artesanato, uma das formas mais autênticas de expressão cultural da região.

Produzido com matérias-primas da floresta, como sementes, fibras, cipós, argila e madeira, o artesanato indígena amazonense vai muito além do aspecto estético: carrega histórias, crenças, modos de vida e identidade coletiva. São colares, cocares, cerâmicas, bancos, instrumentos musicais e objetos ritualísticos que mantêm viva a conexão entre as gerações e a natureza. 

Geração de renda e movimento na economia

Em feiras, lojas e espaços culturais de Manaus, é possível encontrar diversos artesanatos indígenas, confeccionados com sementes de tucumã, jarina, buriti, entre outras espécies amazônicas. Cada peça tem um significado próprio – muitas representam lendas, crenças espirituais e narrativas de origem dos povos Tikuna, Kokama, Dessana, Baniwa, entre outros.

Foto: Lilian Kokama 

De acordo com a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), comunidades como Tukano, Baré, Baniwa e Dessana têm investido no artesanato como principal fonte de renda. A prática não só ajuda na subsistência, como também fortalece a autonomia das aldeias e mantém os jovens conectados à sua cultura ancestral.

De acordo com Lilian Kokama, proprietária da loja Kurupira Artesanatos da Amazônia, ela trabalha com o artesanato amazonense há 10 anos e há seis está à frente da marca. Cada peça carrega uma mistura de histórias, lendas folclóricas e elementos da cultura regional, refletindo a identidade e as raízes amazônicas.

“A importância do artesanato, aqui no Amazonas, vai além do produto feito manualmente. Ele representa a nossa cultura, a nossa história, a tradição e toda a riqueza de um povo diversificado e, também, o bioma. Ele valoriza a cultura indígena e representa a essência do nosso povo”, destacou. 

Foto: Lilian Kokama 

A Kurupira Artesanatos da Amazônia desenvolve biojoias feitas em cerâmica e sementes da floresta. As peças, além de únicas, carregam a simbologia das lendas amazônicas e do folclore brasileiro, como explica Lilian: “O Curupira, por exemplo, é um dos símbolos mais fortes da nossa identidade e inspirou o nome da marca. É uma forma de contar histórias da floresta através da arte”.

Tradições e economia sustentável

Nas comunidades indígenas do interior do Amazonas, o artesanato frequentemente representa a principal fonte de sustento econômico. Para apoiar essa atividade, diversas organizações indígenas promovem feiras, exposições e espaços coletivos que possibilitam a venda direta ao consumidor, fortalecendo o comércio justo e incentivando a preservação da floresta.

O Brasil é reconhecido mundialmente pela sua vasta diversidade indígena, abrigando mais de 300 povos originários que falam cerca de 270 línguas indígenas diferentes. Apesar dos direitos garantidos pela Constituição Federal de 1988, muitos povos indígenas ainda enfrentam sérios desafios, como a demora na demarcação de suas terras, ameaças ambientais, a expansão do garimpo ilegal e persistentes casos de discriminação.

Onde encontrar?

 A Fundação Estadual dos Povos Indígenas do Amazonas (Fepiam) criou o projeto “Feito à Mão Indígena”, que agora conta com sua primeira loja física no Shopping São José, localizado na avenida Cosme Ferreira, 4605 – no bairro São José Operário. Aberta diariamente das 9h às 22h, a loja reúne peças exclusivas produzidas por artesãos indígenas de diversas etnias, como colares, cestarias, cerâmicas e biojoias.

Além do Shopping São José, o artesanato indígena também pode ser encontrado em diferentes pontos de Manaus, como feiras culturais, eventos de economia solidária, no Largo de São Sebastião e na Galeria do Largo, que frequentemente recebem exposições e vendas de peças artesanais.

Foto: Divulgação / Fepiam 

Além dos pontos de venda, o Amazonas conta com associações que fortalecem o artesanato tradicional. Um exemplo de destaque é o trabalho das mulheres da etnia Sateré-Mawé, reunidas na Associação das Mulheres Indígenas Sateré-Mawé (AMISM).

A produção artesanal se diferencia pelo uso de sementes da floresta amazônica, como morototó, tento e umburana, transformadas em colares, pulseiras, acessórios e peças de decoração.

A atividade é conduzida de forma sustentável, com coleta responsável que preserva o meio ambiente e garante a continuidade dos recursos naturais. Além de gerar renda, o trabalho fortalece a identidade cultural, valoriza saberes tradicionais e defende os direitos do povo Sateré-Mawé.

Foto: Alberto César Araújo/Amreal

Pontos fixos de artesanato em Manaus:

  • Loja “Feito à Mão Indígena” – Shopping São José, Av. Cosme Ferreira, 4605 – São José Operário;
  • Galeria do Largo – Praça São Sebastião, Centro;
  • Mercado Municipal Adolpho Lisboa – Rua dos Barés, Centro;
  • Centro de Artesanato Branco e Silva – Av. Sete de Setembro, Centro;
  • Feira de Artesanato da Ponta Negra – Complexo Turístico da Ponta Negra.

Desafios

Mesmo enfrentando desafios como o desmatamento, o avanço do garimpo ilegal e o preconceito, os povos indígenas do Amazonas seguem firmes na preservação de suas tradições. O artesanato, nesse contexto, se torna uma poderosa ferramenta de resistência, educação e afirmação cultural.

Ao adquirir peças diretamente de cooperativas ou em feiras indígenas, o consumidor não leva apenas um objeto único e carregado de significado — ele também contribui para a proteção da floresta, o fortalecimento da economia local e a valorização dos saberes ancestrais.

O Brasil abriga uma das maiores diversidades indígenas do mundo: são mais de 300 povos originários, que falam mais de 270 línguas. Entre eles, Yanomami, Guarani, Tikuna, Kokama, Munduruku, entre muitos outros.

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