Eram 16h42 de domingo (8) quando a energia de vários bairros das zonas Norte e Oeste de Manaus foi embora. O que parecia ser mais uma queda corriqueira de luz, que geralmente é reestabelecida após 2h, transformou-se em mais de 9h de escuridão, calor, carapanãs e agonia.
NÃO TRABALHAMOS COM PREVISÃO
Por volta de 18h, a Amazonas Energia emitiu o primeiro comunicado em seu perfil no Instagram, que dizia:
“A Amazonas Energia informa que, às 16h42min, ocorreu um ‘desligamento intempestivo’ da linha de transmissão de 69 kV, Manaus-Santo Antônio, afetando os bairros do Tarumã, Lago Azul,
Colônia Terra Nova, Santa Etelvina, Novo Israel, Santo Antônio e Monte Sinai. As equipes de manutenção foram acionadas e trabalham na resolução do problema com a maior brevidade possível. A Amazonas Energia agradece compreensão e reitera o compromisso em distribuir energia elétrica com qualidade aos nossos clientes”.
Apesar de apenas sete bairros serem citados no texto, moradores de várias outras localidades apontaram que também estavam sem energia, e a principal reclamação nos comentários do post foi a falta de uma previsão de quando o serviço seria normalizado.
NO MENOR TEMPO POSSÍVEL
Às 21h, já há 5h sem luz, a Amazonas Energia postou um novo comunicado sobre a situação, basicamente com as mesmas informações anteriores, mas dessa vez reiterando que não havia previsão de retorno.
“Atualização de Comunicado – A Amazonas Energia informa que suas equipes continuam atuando para a resolução do problema e o restabelecimento do fornecimento no menor tempo possível. No momento não há previsão para a normalização do sistema afetado. A Amazonas Energia agradece compreensão e reitera o compromisso em distribuir energia elétrica com qualidade aos nossos clientes”.
(NÃO) AGRADECEMOS SUA (IN)COMPREENSÃO
Revoltados, por sua vez, os moradores afetados não contiveram sua insatisfação e aproveitaram a publicação para manifestarem seu descontentamento.
A energia voltou apenas às 02h02 de segunda-feira (9), contabilizando mais de 9h sem luz.
E quando o dia, por fim, amanheceu, não era mais possível encontrar os comunicados, que já somavam mais de 600 comentários de reclamações, no perfil da Amazonas Energia: a empresa havia apagado.
CONVERSAS E DESCONVERSAS
O Diário da Capital entrou em contato com a Amazonas Energia para questionar alguns pontos, como o que teria sido exatamente esse “desligamento intempestivo” do domingo, ao que a empresa, através de sua assessoria de comunicação, respondeu:
“Desligamento intempestivo é um desligamento automático de energia que ocorre de forma inesperada, devido a dispositivos de proteção. A palavra ‘intempestivo’ significa algo que acontece fora do tempo adequado, em um momento inconveniente ou inoportuno”.
Também perguntamos se é normal levar mais de 9h para consertar um “desligamento intempestivo”, e por que a empresa apagou as publicações do Instagram, mas até o fim desta matéria não obtivemos resposta.
CADÊ A LUZ QUE ESTAVA AQUI?
Na tarde desta segunda, o Instituto de Defesa do Consumidor (Procon-AM) informou que notificou a Amazonas Energia e que a empresa foi convocada a prestar esclarecimentos sobre o total de consumidores afetados pelo apagão de domingo, as causas da interrupção do serviço, as medidas adotadas para minimizar os impactos à população, e os procedimentos de reparação para eventuais prejuízos decorrentes da falta de energia.
“O Código de Defesa do Consumidor estabelece a teoria do risco, o que significa que os fornecedores são responsáveis pelas atividades que desempenham. Estamos empenhados em responsabilizar cada parte envolvida nesse processo”, afirmou o diretor-presidente do Instituto, Jalil Fraxe.
A Amazonas Energia agora tem um prazo de 10 dias para fornecer as respostas e apresentar a documentação comprobatória das medidas adotadas. O Procon-AM ressalta, ainda, que a ausência de retorno por parte da concessionária pode ser considerada um ato de desobediência e sujeitar a empresa a sanções.
REPUTAÇÃO RUIM
De acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o Amazonas possui a sétima energia mais cara do Brasil, e a segunda mais cara da região Norte, com R$ 0,835/kWh (ficando atrás apenas do Pará, que ocupa também o topo do ranking nacional com R$ 0,962/kWh).
Em 2018, a empresa foi privatizada pela Eletrobras e adquirida em leilão pelo consórcio Oliveira Energia – Atem, e atualmente enfrenta um processo movido pela Aneel para que deixe de operar no Amazonas devido a inadimplências.
No site ReclameAQUI, dedicado a reclamações da população quanto a serviços oferecidos no Brasil, a Amazonas Energia é classificada com “Reputação Ruim”, recebendo uma nota geral 5/10. A maior parte das queixas é referente a “cobranças indevidas”, seguida por “qualidade do serviço prestado”, “demora na execução”, “valor abusivo” e “mau atendimento do prestador de serviço”.