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Pesquisadores brasileiros dominam técnica de sequenciamento de DNA antigo e desvendam história genômica ancestral

Laboratório de arqueogenética é estabelecido na USP, capacitando pesquisadores locais para a geração de dados arqueogenéticos

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August 28, 2023
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Pesquisadores brasileiros conquistaram a expertise em todas as etapas do processo de extração e sequenciamento de DNA antigo, uma molécula encontrada em restos biológicos antigos, como ossos de escavações arqueológicas. Esse método, que foi desenvolvido pelo biólogo sueco Svante Pääbo, vencedor do Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 2022 por suas descobertas sobre o genoma de hominídeos extintos e a evolução humana, agora é dominado por cientistas do Brasil.

O pesquisador brasileiro Tiago Ferraz, que realizou seu doutorado no Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, na Alemanha, sob a orientação de Svante Pääbo, trouxe para a Universidade de São Paulo (USP) o domínio da técnica de sequenciamento de DNA antigo. No Instituto Max Planck, Ferraz foi responsável por conduzir o sequenciamento de DNA antigo que levou à publicação do artigo "Genomic History of Coastal Societies from Eastern South America" na revista Nature Ecology & Evolution.

O estudo, conduzido em parceria com pesquisadores do Senckenberg Centre for Human Evolution and Palaeoenvironment da Universidade de Tübingen, na Alemanha, teve como objetivo analisar o genoma de 34 amostras de até 10 mil anos de idade de quatro regiões distintas da costa leste do Brasil. O resultado desse sequenciamento permitiu elucidar um enigma da arqueologia brasileira: as antigas populações costeiras, conhecidas como sambaquieiros, pertenciam a um único grupo biológico ou a diferentes grupos?

André Menezes Strauss, arqueólogo do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP e pesquisador sênior do estudo, destaca a importância institucional do trabalho liderado por um brasileiro. O estudo revelou que os sambaquieiros, ancestrais dos indígenas atuais, descendem da mesma população ancestral que habita a região há 16 mil anos, desacreditando teorias anteriores que propunham duas levas de migração humana da Ásia para a América.

O sequenciamento de DNA antigo torna-se mais acessível no Brasil com a inauguração do Laboratório de Arqueologia e Antropologia Ambiental e Evolutiva na USP. O laboratório, fruto da colaboração com o Instituto Max Planck, possibilitará que o sequenciamento seja realizado no país, sem depender de estruturas estrangeiras. Tiago Ferraz, após treinamento de dois anos no Instituto Max Planck, lidera a iniciativa e tem a intenção de capacitar pesquisadores locais para gerar dados arqueogenéticos em solo brasileiro. A inauguração do laboratório está prevista para o final de 2023.

Essa conquista representa um marco na pesquisa científica brasileira, possibilitando a geração de conhecimento sobre a ancestralidade humana e a história genômica do país através do sequenciamento de DNA antigo.

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