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Oposição acusa base aliada de David Almeida de desviar foco dos estragos das chuvas 

A inversão da pauta, por outro lado, foi defendida pelos aliados do prefeito, que alegaram que a medida foi uma decisão natural.

Escrito por
Rhyvia Araujo
March 10, 2025
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A oposição na Câmara Municipal de Manaus (CMM) acusou a base aliada do prefeito David Almeida (Avante) de adotar uma estratégia para ‘burlar’ o debate sobre os graves estragos causados pelas chuvas na cidade durante o período carnavalesco. Segundo os opositores, a inversão da pauta da sessão desta segunda-feira (10/03) foi uma manobra para desviar o foco dos problemas urgentes, como alagamentos, deslizamentos de terra, além da ausência do prefeito durante o período crítico, quando ele esteve em viagem ao Caribe. 

Para os opositores, a mudança na ordem do dia teve o objetivo de evitar que os aliados de Almeida fossem questionados sobre a falta de infraestrutura e planejamento.

Durante a sessão, os opositores destacaram que a cidade de Manaus não está preparada para enfrentar os efeitos dos temporais, como a falta de drenagem, saneamento básico e a infraestrutura inadequada. No período, o prefeito estava em viagem ao Caribe, e até o momento, não se manifestou sobre os danos registrados. Por outro lado, após retornar de recesso no último sábado (8/3), Almeida esteve na sede da Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (Semulsp) para inaugurar uma réplica do “Touro de Ouro de Wall Street”.

Mudança na pauta e críticas da oposição

Questionado pelo Diário da Capital, o vereador Zé Ricardo (PT) questionou a falta de debate dos parlamentares sobre as consequências das chuvas. 

“Problema seríssimo na drenagem, falta de saneamento, de modo geral, áreas de risco e desmoronamentos prejudicando e ameaçando a vida de muitas famílias na cidade de Manaus. A Prefeitura não tem nenhuma proposta, nenhuma discussão aberta e aqui também se tenta impedir que tenha uma discussão dessa natureza”, afirmou o parlamentar.

Rodrigo Guedes (PP), também da oposição, reforçou as críticas à mudança de pauta, alegando que a base aliada se concentrou em homenagens ao Dia Internacional da Mulher por mais de uma hora, em vez de abordar os problemas enfrentados pela população devido às chuvas.

“É uma estratégia, se você observar, eles [ficaram] se revezando para se pronunciarem em assuntos, que lógico, tem relevância, mas de uma forma extremamente atípica aqui dentro da CMM, nas questões de ordem que, com todo respeito às mulheres, é fundamental fazer as homenagens devidas, mas foi mais de 1 hora só se revezando nesse tema, inverteram a ordem do dia, fazendo com que a gente não tenho o direito de fala”, afirmou.

Coronel Rosses (PL) não poupou críticas à atitude da base aliada, chamando a inversão da pauta de “cortina de fumaça”. O vereador também lamentou a viagem do prefeito ao Caribe durante a crise, o que, segundo ele, demonstra a desconexão da administração municipal com as necessidades urgentes da cidade.

“Se a gente tivesse uma infraestrutura preventiva com certeza a gente já teria um comitê de crise para pelo menos tentar amenizar a situação da população. A cidade de Manaus sem energia, infraestrutura, e o prefeito infelizmente no Caribe, e o mais importante, com empresários fornecedores da Prefeitura”, disse Rosses.

Base aliada defende celeridade

A inversão da pauta foi defendida pelos aliados do prefeito, que alegaram que a medida foi uma decisão natural para priorizar a votação de projetos importantes, além de ser permitida pela Lei Orgânica do Município (Loman). O vereador João Carlos (Republicanos), um dos aliados, afirmou que a mudança na ordem do dia não teve caráter estratégico e que todos os vereadores tiveram a oportunidade de se manifestar.

“Tudo aqui é importante, todos acabam tendo razão de falar. Eu não vejo como estratégia nenhuma, vejo como natural, até porque a Loman nos garante isso. A Lei Orgânica permite. Tudo tem que ser feito, bom que todos fossem céleres no que falam para que nós consigamos ter melhor êxito no trabalho. Porque, se não, a gente fica falando muito e não dizendo nada”, disse o vereador.

O líder do prefeito na CMM, vereador Eduardo Alfaia (Avante), rebateu as críticas e afirmou que os vereadores estavam discutindo um projeto fundamental para a habitação em Manaus, que prevê a doação de imóveis do patrimônio público ao Fundo de Arrendamento Residencial (FAR) para a construção de moradias. 

“Claro que é um direito do vereador fazer esse tipo de manifestação ou críticas, mas na verdade nós temos matérias importantes, inclusive, se ele não julga importante essa matéria do projeto de habitação, que o município está permitindo a alienação de imóveis para projetos habitacionais, que vão atender pelo menos são 1.120 apartamentos do projeto Minha Casa Minha Vida. Eu julgo essa matéria extremamente importante, pode ser que pra ele não seja tão importante”, iniciou.

Ao Diário da Capital, Alfaia ainda destacou que a Prefeitura tem trabalhado para resolver os problemas de infraestrutura e que a criação da Secretaria de Habitação é um passo importante para lidar com as questões de moradia e ocupações irregulares na cidade.

“As pessoas que são mais penalizadas com esses eventos naturais são pessoas que moram em ocupações irregulares, moram em áreas de riscos. Tá me dizendo que a gente tá silenciado? Eu não concordo. Não há [estratégia], a intenção é a gente dar celeridade a uma matéria que eu julgo extremamente importante, se outros não julgam aí é critério de cada um, da sua consciência, postura e perfil de trabalho”, finalizou.

Férias para o Caribe

No ano passado, o prefeito também passou o Carnaval no Caribe, em uma viagem que gerou controvérsias. A viagem, feita a bordo de um jatinho de um empresário fornecedor da Prefeitura de Manaus, gerou indignação devido ao envolvimento de interesses privados na administração pública. 

Na época, ao ser questionado pelo Diário da Capital sobre a viagem, o prefeito argumentou que trabalhava 12 horas por dia, além de afirmar que não recebia 13º salário. “Meu amor, eu trabalho 12 horas por dia. Eu não recebo 13º, não recebo férias, não ganho diárias, não gastei dinheiro da Prefeitura. Será que eu não tenho o direito nem de me divertir um pouco? Você não tem outra pauta para tratar?”, disse Almeida.

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