A apreensão de uma banca de frutas e legumes de uma vendedora ambulante no Centro de Manaus, registrada nesta quinta-feira (13), gerou indignação e mobilizou reações tanto da população quanto da Prefeitura e também da comunidade haitiana em Manaus.
Um vídeo que circula nas redes sociais mostra fiscais da Secretaria Municipal de Agricultura, Abastecimento, Centro e Comércio Informal (Semacc) e agentes da Guarda Municipal recolhendo os produtos da vendedora e colocando-os na carroceria de um veículo. A mulher tenta resistir, mas é contida pelos fiscais.
Em resposta ao episódio, a Prefeitura de Manaus divulgou uma nota oficial na qual afirma que a apreensão foi parte de uma ação de reordenamento urbano e que medidas de conscientização foram realizadas previamente para alertar os ambulantes sobre a necessidade de regularização. “Apenas quem insistiu nas irregularidades foi alvo de apreensão”, informou a administração municipal.
A nota também destacou que a vendedora abordada no vídeo é haitiana e que a Prefeitura disponibiliza espaços específicos para migrantes ambulantes, como a “Feira do Migrante”, localizada no Centro. Além disso, reforçou que 45.323 migrantes e refugiados estão cadastrados em programas sociais na cidade.
A Prefeitura ressaltou ainda que “quaisquer excessos não contam com a anuência da gestão” e que medidas administrativas serão tomadas para revisar os procedimentos de abordagem da fiscalização. A nota na íntegra pode ser conferida aqui.
Resposta da Associação Haitiana
O presidente da Associação dos Trabalhadores Haitianos no Amazonas (ATHAM), Abdias Dolce, criticou a forma como a ação foi conduzida.
“Foi muito lamentável, tiraram as coisas dela como se fosse lixo. Não pensaram que era o sustento dela e da família”, afirmou.
Abdias relatou que soube do ocorrido imediatamente após o episódio e que tentou interceder junto à Prefeitura para recuperar os pertences da vendedora. “Entramos em contato e, depois de 30 minutos, já falaram que doaram as mercadorias dela. Pedimos ao menos a devolução do carrinho, mas ainda não tivemos resposta”.
O líder da associação ressaltou que a comunidade haitiana em Manaus, presente há 15 anos na cidade, sempre buscou trabalhar para se sustentar sem depender de assistências sociais. “Nós procuramos nossa vida com nossa força e nossa coragem. Não ficamos dependendo da assistência social”, afirmou.
O presidente também criticou a falta de diálogo da Prefeitura com os trabalhadores imigrantes.
“Eu não sou contra o trabalho da Prefeitura nem dos fiscais, mas precisava de uma alternativa. Não chamaram nenhuma associação haitiana para debater, não abriram inscrições para regularizar os comerciantes em outros locais”, apontou.
A ATHAM segue aguardando um posicionamento da Prefeitura sobre a devolução do carrinho e a possibilidade de a vendedora conseguir um local adequado para continuar seu trabalho.