Conhecido pelo apelo à preservação da Amazônia e uma das vozes mais ativas contra o desmatamento, Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, morreu na segunda-feira (21/4), aos 88 anos. Segundo o Vaticano, a morte foi causada por um Acidente Vascular Cerebral (AVC), seguido de um quadro de insuficiência cardíaca irreversível.
“Certifico que sua santidade francisco (jorge mario bergoglio), nascido em Buenos Aires (Argentina) em 17 de dezembro de 1936, residente na cidade do Vaticano, morreu às 7h35 do dia 21/04/2025 em seu apartamento na Domus Santa Marta (cidade do Vaticano) por: avc cerebral, coma seguido de colapso cardiocirculatório irreversível”, informou o Departamento de Saúde do Vaticano.
Francisco se recuperava de uma pneumonia nos dois pulmões, quadro que o manteve internado por 38 dias. Há um mês, ele teve alta e estava sob cuidados médicos.
Relação com a Amazônia
Apegado à Amazônia, o pontífice, que ocupou o cargo máximo da Igreja Católica por 12 anos, impressionou fiéis do mundo inteiro ao convocar, pela primeira vez, um Sínodo dedicado à Amazônia. Convidado para participar, o reitor do Santuário Nossa Senhora Aparecida, em Manaus, padre Amarildo Luciano, descreveu o encontro com o pontífice.
“Durante a assembleia, o papa se fazia presente e escutava com atenção todas as intervenções. Aliás, foi durante a sua estada na Amazônia que ele indicou a sua intenção de convocar o sínodo. Gostaríamos muito que ele tivesse visitado a parte da Amazônia brasileira, mas infelizmente isso não aconteceu, por diversos fatores“, disse em entrevista ao G1.

De acordo com o cardeal e arcebispo de Manaus, Dom Leonardo Steiner, nomeado cardeal da Igreja Católica pelo Papa Francisco em 2022 e primeiro cardeal da Amazônia brasileira, o pontífice teve um papel único ao colocar a questão ambiental no centro do debate da Igreja.
“Nenhum Papa nos alertou tanto para cuidarmos da nossa casa comum, da natureza. O Papa Francisco tinha um carinho grande pela Amazônia, mas especialmente para os povos originários. Daí começou a trabalhar nessas questões de meio ambiente”, disse durante uma coletiva de imprensa realizada na Arquidiocese da capital, no Centro da cidade.
Na Exortação pós-sinodal, intitulada ‘Querida Amazônia’, o papa Francisco destaca o desejo pela valorização das minorias étnicas e que o mundo se abra para as vozes da região amazônica.
“Sonho com uma Amazônia que lute pelos direitos dos mais pobres, dos povos nativos, dos últimos, de modo que a sua voz seja ouvida e sua dignidade promovida. Sonho com uma Amazônia que preserve a riqueza cultural que a caracteriza e na qual brilha de maneira tão variada a beleza humana. Sonho com uma Amazônia que guarde zelosamente a sedutora beleza natural que a adorna, a vida transbordante que enche os seus rios e as suas florestas. Sonho com comunidades cristãs capazes de se devotar e encarnar de tal modo na Amazônia, que deem à Igreja rostos novos com traços amazônicos”, diz trecho de ‘Sonhos para a Amazônia’.
Ao todo, a reunião convocada pelo pontífice reuniu, no Vaticano, em Roma, 120 bispos de nove países da região Pan-Amazônica, como: Brasil, Peru, Bolívia, Colômbia, Equador e Venezuela, Suriname, Guiana e Guiana Francesa, além de representantes de diversas comunidades indígenas, quilombolas, pescadores e comunidades tradicionais, com debates ligados a temas ambientais e sociais.
Doença respiratória
A primeira hospitalização foi no início de fevereiro de 2025. Nos dias seguintes, o papa admitiu publicamente que estava com dificuldades respiratórias e chegou a pedir para um auxiliar fazer a leitura do sermão.
No dia 14 de fevereiro, o papa Francisco foi internado no hospital Agostino Gemelli para fazer exames e tratar a bronquite. Mesmo hospitalizado, ele continuou participando de algumas atividades religiosas. No dia 16, ele pediu desculpas por faltar à oração semanal com fiéis na Praça de São Pedro.
Já no dia 17, o Vaticano informou que Francisco estava com uma infecção polimicrobiana — causada por um ou mais microrganismos, como bactérias, vírus ou fungos. O quadro de saúde do papa foi descrito como “complexo”.
No dia seguinte, em um novo boletim, o Vaticano anunciou que o pontífice estava com uma pneumonia bilateral. A infecção era mais grave do que uma pneumonia comum. Ele teve alta no dia 23 de março.
Primeiro papa latino-americano
Nascido em 17 de dezembro de 1936 em Buenos Aires, na Argentina, Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, foi o primeiro papa latino-americano da história.
Ele também foi o primeiro pontífice da era moderna a assumir o papado após a renúncia do seu antecessor e, ainda, o primeiro jesuíta no posto.
À frente da Igreja Católica por quase 12 anos, Francisco foi o papa número 266.
Em 13 de março de 2013, durante o segundo dia do conclave para eleger o substituto de Bento XVI, Bergoglio foi escolhido como o novo líder – inclusive contra a sua própria vontade, segundo ele mesmo admitiu.