A Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) identificou Sophia Livas de Morais Almeida como suspeita de exercer ilegalmente a medicina em Manaus, após a prisão de um estudante de educação física, no final de abril, por atuar sem formação em unidades de saúde da capital. A investigação levou à localização e prisão de Sophia na última segunda-feira (20/5). A suspeita também alegava ser sobrinha do prefeito de Manaus, David Almeida (Avante).
Segundo o delegado Cícero Túlio, titular do 1º Distrito Integrado de Polícia (DIP), Sophia teria se infiltrado em um grupo de médicos especialistas por meio de um aplicativo de mensagens, onde ganhou a confiança dos profissionais e passou a integrar um programa de atendimento a crianças cardiopatas no Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV), localizado no Centro de Manaus.
Além disso, as investigações apontam que a jovem subtraiu o carimbo de uma médica com nome semelhante e passou a realizar consultas externas, se passando pela profissional. Também teria utilizado o consultório de uma das médicas para atender crianças autistas e com patologias cardíacas.
Ainda segundo a polícia, dois pacientes atendidos por Sophia foram desligados de seus empregos após apresentarem atestados emitidos por ela. A suspeita chegou a participar de partos em Manaus e atuava como professora voluntária em faculdades de medicina no estado.
Após denúncias sobre sua atuação irregular, a investigada, na tentativa de não ser descoberta, registrou um boletim de ocorrência falso, alegando estar sendo difamada, para permanecer no programa de acompanhamento cardiológico infantil do Hospital Universitário Getúlio Vargas.
A reportagem entrou em contato com o Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV) para obter um posicionamento sobre a atuação de Sophia Livas, mas até o momento não obteve retorno.
Exposição na internet
Além de apresentar um podcast semanal, no qual entrevistava profissionais e autoridades da área médica com foco em cardiologia pediátrica, Sophia também teria convencido especialistas a autorizarem que ela coordenasse um congresso nacional da especialidade, previsto para ocorrer em Manaus nos próximos dias.
Em razão disso, viajou a Brasília com despesas custeadas pelo evento e participou, na condição de médica, de reuniões com secretários dos Ministérios da Saúde e da Educação, além de encontros com parlamentares da Câmara dos Deputados e do Senado.
Nas redes sociais, a jovem compartilhava sua suposta rotina de atendimentos a crianças como cardiologista pediátrica, além de publicar registros de encontros com autoridades e aulas ministradas em faculdades de Manaus.
No entanto, os investigadores reuniram evidências de que Sophia falsificou documentos acadêmicos, como diploma e histórico escolar de uma faculdade de medicina, confirmando a inautenticidade de sua formação.
Durante a operação policial, foram cumpridos mandados de busca na residência da investigada, localizada no bairro da Betânia, na zona Sul de Manaus. No local, foram apreendidos celulares, computadores, jalecos, instrumentos médicos e milhares de receituários e atestados preenchidos. Parte desse material continha informações de uma médica que teria denunciado o uso indevido de seu carimbo profissional.
A falsa médica pode ser indiciada em razão dos crimes:
- falsa identidade;
- falsidade ideológica;
- exercício ilegal da medicina;
- estelionato praticado contra vulnerável;
- falsidade material de atestado;
- curandeirismo e charlatanismo.
Além disso, será encaminhada à audiência de custódia, onde ficará à disposição da justiça para responder pelos delitos cometidos.
Posicionamento do CREMAM
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Amazonas (CREMAM) se manifestou, nesta quarta-feira (21/5), sobre denúncias recentes de exercício ilegal da medicina.
Em nota enviada ao Diário da Capital, o órgão afirmou que “os casos recentemente divulgados pela imprensa envolvendo indivíduos que se faziam passar por médicos constituem episódios pontuais e isolados, dos quais este Conselho tomou ciência exclusivamente por intermédio dos veículos de comunicação”.
O CREMAM destacou os procedimentos exigidos para o registro de médicos no estado.“Informa-se, ainda, que todo médico registrado neste Conselho Regional é previamente submetido a rigorosa análise documental, incluindo a verificação da autenticidade do diploma junto à instituição de ensino emissora, seja ela nacional ou estrangeira, em conformidade com os protocolos legais e administrativos vigentes”.
A entidade também reforçou a importância da checagem por parte da população.“Por fim, o CREMAM orienta a população que, diante de qualquer dúvida quanto à regularidade do exercício profissional de determinada pessoa, seja realizada consulta direta aos seus canais oficiais — presencialmente, por telefone, e-mail ou, ainda, por meio do portal do Conselho Federal de Medicina, na seção ‘Busca por Médicos’ — a fim de verificar a existência e a validade do respectivo registro”.
Veja nota na íntegra:
