Segurança

“Usuários de Discord” se tornou pejorativo em 2025? Entenda a polêmica em torno do app

No Dia do Orgulho Nerd, 25 de maio, o Diário da Capital entrevistou usuários ativos do Discord e um especialista em segurança digital para entender como a onda de crimes virtuais na plataforma reverbera negativamente sobre esse público

Escrito por Yasmin Siqueira
25 de maio de 2025
Reprodução/WeLiveSecurity

Neste 25 de maio, data em que é celebrado o Dia do Orgulho Nerd, o Discord — uma das plataformas favoritas entre gamers e entusiastas da tecnologia — se vê envolto em uma série de problemas que impactam diretamente a comunidade que mais o utiliza. Embora a rede social tenha nascido como um espaço seguro para jogos e socialização online, a crescente onda de crimes cibernéticos tem gerado estigmas e desconfiança, especialmente entre usuários mais jovens e a sociedade.

Nos últimos meses, o Discord tem sido apontado como palco para chantagens com fotos íntimas, incitação à automutilação e até incentivo ao suicídio, principalmente entre adolescentes. O ambiente descentralizado e de moderadores voluntários, aliado ao anonimato, tem facilitado a atuação de criminosos e dificultado o controle da plataforma — uma combinação perigosa, como alerta o especialista em segurança cibernética André Ricardo Cruz dos Santos.

“O Discord é um ambiente propício devido ao anonimato e informalidade, mas a moderação depende da supervisão humana, não da plataforma. Historicamente, o Discord tem investido pouco em segurança, facilitando golpes cibernéticos. Adolescentes, influenciados por emoções e ofertas tentadoras, são particularmente vulneráveis a essas armadilhas.”, explicou o especialista.

Entre o preconceito e a paixão pela cultura nerd

O Diário da Capital ouviu usuários frequentes da plataforma para entender como o crescente estigma tem afetado o dia a dia dos “nerds”. Afinal, o Discord sempre foi associado a essa comunidade: um espaço para debater sobre animes, programação, filmes, e, claro, jogar online com amigos, às vezes por horas a fio.

A designer Cecília Frazão, usuária ativa do Discord, compartilha como o preconceito surgiu até mesmo em ambientes profissionais: “Se eu digo para alguém mais velho que uso o Discord como ferramenta de trabalho, às vezes recebo olhares tortos. Muitos associam a plataforma apenas às notícias negativas. Mas os jovens, quem está inserido no universo digital, sabem que existem milhares de comunidades saudáveis por lá”, afirmou. Cecília faz parte de servidores do Discord voltados para artistas, como o “Art Commissions”, exemplificou.

Jociney Mourão, jornalista, também usa a rede diariamente para manter contato com amigos que vivem em outras cidades: “A gente usa o Discord para tudo: jogar, conversar em call, trocar ideia. Claro que tem casos problemáticos, como em qualquer rede, mas ainda é uma das poucas plataformas que oferece esse tipo de experiência coletiva de forma prática”, pontuou.

Ele comenta sobre as comunidades que participa: “faço parte de algumas que são de youtubers ou streamers e lá tem a comunidade que seguem eles, também serve para avisar quando tem live ou dar dica em jogos etc. A que eu mais vejo é Navio do Revirotto que é uma comunidade de jogos, mais especificamente em fazer 100% deles e também a ‘Load game’ que acaba sendo uma comunidade parecida”, completa.

A reportagem procurou a Polícia Civil do Amazonas (PC-AM)  e o Delegado Paulo Benelli, titular da Delegacia Especializada em Repressão a Crimes Cibernéticos (DERCC) para questionar se o Amazonas possui dados relativos a crimes cometidos no Discord, mas não recebemos retorno. O delegado, por sua vez, afirmou  estar afastado da PC-AM e que não poderia comentar sobre o tema.

Enquanto isso, o Discord se posiciona de forma institucional afirmando que:

“Investimos fortemente em ferramentas de segurança líderes no setor e em sistemas de moderação que protegem nossos mais de 200 milhões de usuários. Contamos com equipes especializadas e colaboramos com autoridades quando necessário”.

Apesar da nota, críticos afirmam que os esforços ainda são insuficientes diante do tamanho da plataforma e do volume de usuários adolescentes. A falta de um sistema robusto de supervisão centralizada e a dependência da moderação dos próprios usuários tornam o ambiente vulnerável a abusos.

O que fazer diante dos riscos?

Para quem foi vítima de crimes cibernéticos no Discord, é possível registrar boletim de ocorrência presencialmente na DERCC ou virtualmente no site delegacia virtual.sinesp.gov.br. A recomendação de especialistas é para que pais e responsáveis acompanhem de perto a atividade online de crianças e adolescentes, incentivando o diálogo e criando um ambiente de confiança.

Fim dos estigmas

A cultura nerd sempre celebrou a curiosidade, o conhecimento e a busca por comunidades onde paixões em comum se encontram. No entanto, quando essas mesmas comunidades passam a ser vistas com desconfiança, a linha entre o orgulho e o preconceito se torna tênue.

Neste Dia do Orgulho Nerd, o desafio vai além de homenagear os clássicos da ficção científica, games ou personagens. O momento pede reflexão: como proteger os espaços digitais sem criminalizar seus usuários? Como continuar nerd sem carregar o peso de um estigma? A resposta pode estar justamente no endurecimento da fiscalização dessas plataformas, garantindo a segurança de seus milhões de usuários.

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