Amazonas

Um terço da população da Amazônia já sente os efeitos das mudanças climáticas, revela pesquisa

Estudo mostra aumento de calor, poluição, seca e impacto direto na vida de povos tradicionais

Escrito por Redação
12 de outubro de 2025
Foto: Divulgação/ O Eco

A pesquisa “Mais Dados, Mais Saúde – Clima e Saúde na Amazônia Legal” revelou que um em cada três moradores da região (32%) já sente diretamente os impactos das mudanças climáticas. Entre os entrevistados, 42,2% afirmaram perceber de forma clara os efeitos causados pelas alterações no clima. 

Realizada pela Umane e Vital Strategies, com apoio do Instituto Devive e disponível no Observatório da Saúde Pública, a pesquisa foi conduzida entre 27 de maio e 24 de julho de 2025, de forma online, com 4.037 participantes residentes em um dos nove estados que compõem a Amazônia Legal:

  • Acre
  • Amapá 
  • Amazonas
  • Maranhão
  • Mato Grosso
  • Pará
  • Rondônia
  • Roraima
  • Tocantins

De acordo com o levantamento, essa percepção é ainda maior entre as pessoas que se identificam como parte de povos e comunidades tradicionais, como: 

  •  Indígenas
  •  Quilombolas
  •  Ribeirinhos
  •  Seringueiros. 

De acordo com a especialista Luciana Vasconcelos Sardinha, diretora adjunta de Doenças Crônicas Não Transmissíveis da Vital Strategies e responsável técnica pela pesquisa, as mudanças climáticas já estão impactando o cotidiano da população da Amazônia Legal.

“A Amazônia vem priorizando a implantação de muitas hidrelétricas, grandes negócios agropecuários, grandes desmatamentos. E isso tem uma consequência. Esse modelo de desenvolvimento acaba sendo excludente e predatório, reforçando pobrezas e desigualdades. E os povos tradicionais são afetados diretamente por essas consequências”, afirmou 

Entre os efeitos mais sentidos pelos moradores da Amazônia Legal estão:

  • Aumento da conta de energia elétrica – 83,4%
  • Aumento da temperatura média – 82,4%
  • Aumento da poluição do ar – 75%
  • Maior ocorrência de desastres ambientais – 74,4%
  • Aumento do preço dos alimentos – 73%

Temperaturas acima da média

Dois em cada três moradores da Amazônia Legal (64,7%) que foram entrevistados para essa pesquisa relataram ter vivenciado ondas de calor, com temperaturas acima da média local, nos últimos dois anos. Além disso, cerca de um terço desses moradores (29,6%) também informou que, nos últimos dois anos, acompanhou eventos de seca persistente, agravada por mais calor e menos chuva, além de incêndios florestais com fumaça intensa que causaram impacto em suas atividades diárias (29,2%).

Nesse mesmo período, os moradores também disseram ter acompanhado situações de desmatamento ambiental (28,7%), de piora da qualidade do ar (26,7%) e de piora na qualidade da água (19,9%) na região.

Entre a população que se identifica como parte de algum povo ou comunidade tradicional, os relatos mais fortes foram de piora na qualidade de água (24,1%) e de problemas na produção de alimentos (21,4%).

Foto: Divulgação/OGlobo 

Mudanças climáticas

O inquérito apontou ainda que as mudanças climáticas já têm provocado alteração nos comportamentos dos moradores da Amazônia Legal. Metade da população afirmou, por exemplo, ter reduzido práticas que acredita poder contribuir para o agravamento do problema (53,3%) e 38,4% disseram sentir culpa por desperdiçar energia. A maioria dos residentes costuma separar o lixo para reciclagem (64%), prática ainda mais comum entre povos e comunidades tradicionais (70,1%).

Para Luciana Vasconcelos Sardinha, os povos tradicionais são os mais afetados pelas mudanças climáticas, mas também aqueles que desenvolvem as respostas mais eficazes diante dessas transformações. “O respeito a essa diversidade cultural, que vem desses saberes tradicionais, é muito importante quando a gente pensa em como solucionar ou melhorar a qualidade de vida” , ressaltou. 

Ela explica que os povos tradicionais estão mais expostos por apresentarem, em geral, menor renda e escolaridade, o que os torna mais vulneráveis. 

“A gente observa que os povos tradicionais estão mais expostos por serem mais vulneráveis e terem, em geral, menor renda e menor escolaridade. Isso está transformando diretamente o território em que eles vivem e seu modo de vida. Mas isso mostra o potencial que eles têm para se reinventar. Eles se organizam muito de forma comunitária, em rede, o que tem ajudado a mitigar as consequências dessas mudanças climáticas”, disse. 

Para a especialista, além da organização comunitária e dos saberes tradicionais, as respostas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas também passam por políticas públicas voltadas à redução das desigualdades regionais. 

 “Precisamos fortalecer governanças para ter planejamento integrado e unir esforços para aumentar os recursos financeiros, logísticos e humanos, que são sempre escassos. Então, se fizermos algo de forma integrada, vamos conseguir melhores resultados. Outra forma importante para mitigação desses problemas é um modelo de desenvolvimento que implique  participação demográfica, socialização dessas políticas e principalmente sustentabilidade. Temos o protagonismo dos povos tradicionais que tem que ser considerado”, destacou. 

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