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Surto de Hepatite Delta ameaça comunidades ribeirinhas no Amazonas

Doença pode levar a cirrose e câncer.

Escrito por
Redação
October 09, 2024
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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Os casos de hepatite Delta entre ribeirinhos no Amazonas têm preocupado as autoridades de saúde e pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Considerada a forma mais agressiva das hepatites virais, a hepatite Delta pode causar cirrose, câncer e até mesmo levar à morte. Apesar da alta incidência, poucos pacientes estão em tratamento, conforme informado pela Fiocruz.

Desde junho deste ano, uma equipe de pesquisadores do Laboratório de Virologia Molecular da Fiocruz Rondônia e profissionais de saúde de Lábrea (AM) acompanha comunidades ribeirinhas na região sul do Amazonas. De acordo com o Centro de Testagem Rápida e Aconselhamento (CTA) da Secretaria Municipal de Saúde de Lábrea, há aproximadamente 1.400 casos notificados da doença na cidade, mas apenas 140 pacientes estão em acompanhamento.

Em Lábrea, a equipe da Fiocruz percorreu as comunidades ribeirinhas de Várzea Grande e Acimã, no Rio Purus. Durante dois dias, foram realizados testes rápidos e exames laboratoriais, focando principalmente no diagnóstico e rastreamento das hepatites virais, especialmente a hepatite Delta. Dos 113 moradores atendidos, 16 foram diagnosticados com a doença.

As amostras coletadas são levadas para a Fiocruz Rondônia, onde são processadas e avaliadas. Os indivíduos diagnosticados são assistidos pela equipe de saúde de Lábrea e pelo Ambulatório de Hepatites Virais, que auxilia na conduta clínica dos pacientes.

De acordo com o último Boletim Epidemiológico sobre Hepatites Virais de 2023, divulgado pelo Ministério da Saúde, entre 2000 e 2022 foram diagnosticados no Brasil 4.393 casos de hepatite Delta. A Região Norte apresentou a maior incidência, com 73,1% dos casos. Em 2022, houve 108 novos diagnósticos, sendo 56 casos confirmados na Região Norte.

A hepatite Delta pode ser assintomática inicialmente, mas está associada a uma maior ocorrência de cirrose em até dois anos após a infecção, podendo levar a complicações como câncer e morte. Quando há sintomas, os mais frequentes são cansaço, tontura, enjoo, vômitos, febre, dor abdominal, icterícia, urina escura e fezes claras. A principal forma de prevenção é a vacina contra hepatite B.

A doença pode ser transmitida por relações sexuais sem preservativo, da mãe infectada para o filho, pelo compartilhamento de materiais para uso de drogas, materiais de higiene pessoal, e procedimentos como tatuagens e piercings sem normas de biossegurança. O tratamento visa controlar o dano ao fígado, e as terapias são disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Um dos desafios enfrentados é a testagem adequada para a hepatite Delta, já que os testes disponíveis na rede pública são limitados. A Fiocruz Rondônia desenvolveu um método molecular para quantificação da carga viral do vírus HDV, aplicado no diagnóstico e monitoramento de pacientes nos estados de Rondônia e Acre, mas ainda não disponível no SUS.

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