O debate entre os candidatos à prefeitura de Manaus, realizado na manhã desta segunda-feira (26) pela TV Norte, mais uma vez expôs a falta de substância nas discussões políticas locais. No fim, o que se viu foi um festival de promessas exageradas, trocas de farpas e discursos vazios, com pouco foco em soluções concretas para os desafios da cidade, indicando uma disputa eleitoral pautada muito mais em acusações e defesas.
Dos sete candidatos, seis compareceram: Amom Mandel (Cidadania), Alberto Neto (PL), Gilberto Vasconcelos (PSTU), Marcelo Ramos (PT), Roberto Cidade (União Brasil) e Wilker Barreto (Mobiliza). A decisão de David Almeida de não participar do debate eleitoral foi criticada pelos postulantes ao cargo. O candidato ausente foi chamado de “fujão”. A informação oficial é de que a estratégia para faltar ao encontro foi definida devido a compromissos marcados.
Entre os candidatos presentes, Gilberto Vasconcelos (PSTU) se destacou ao tentar trazer a discussão para uma perspectiva mais realista, abordando questões essenciais como o Fundeb. Em suas palavras, “tenho ouvido propostas pra iludir a minha categoria de professores pra dizer que vai pagar o Fundeb. O Fundeb é pra valorizar os professores! Quando sobra dinheiro no final do ano é porque o prefeito ou governador não fizeram o trabalho direito”. Vasconcelos criticou duramente as propostas que, segundo ele, buscam apenas enganar os professores com promessas de pagamento, sem abordar a verdadeira finalidade do fundo.
Amom Mandel (Cidadania), que protagonizou vários embates, usou o tema do Fundeb para questionar Roberto Cidade (União) por não ter incluído o pagamento do fundo em seu plano de governo. “David não pagou, Wilson também não e você ficou calado quanto ao pagamento do Fundeb. […] Você é um migué da política amazonense. Você pensa que vai lacrar aqui? Não vai lacrar. Você não tem propostas, você quer perguntar e quer que alguém responda. Eu tô pronto pra colocar merenda!”, disse Mandel. A troca de acusações entre os candidatos, no entanto, não resultou em propostas concretas para a educação.
Marcelo Ramos (PL) também entrou na disputa verbal, criticando tanto Amom quanto Roberto Cidade, afirmando que “falta autoridade para fazer críticas à saúde”. Tu és deputado estadual e não colocaste um real pra cidade de Manaus. Tu és liderado por alguém que criou um colapso absoluto na rede de alta e média complexidade que é Wilson Lima”, afirmou Ramos. Já Wilker Barreto disse que Amom é tão omisso quanto Roberto e Alberto na fiscalização da saúde da cidade.
Outro momento de destaque, mas igualmente vazio em termos de proposta, foi o confronto entre Alberto Neto (PL) e Amom Mandel. Alberto Neto lembrou um episódio em que Amom deu voz de prisão a policiais, perguntando: “Amom, você se mostrou muito mimado, um garoto mimado que deu voz de prisão aos policiais por tá fazendo o serviço. Tu vai fazer isso com os guardas municipais também?”.
Em resposta, Amom reforçou sua posição contra a truculência policial, declarando que “é preciso combater os bandidos tanto de farda, quanto sem farda. Eu sou contra a bandidagem e não passo pano pra ninguém. O pior bandido que tem é o fardado”, reforçou Mandel.
Alberto Neto, por sua vez, usou o debate para enfatizar a remoção de David Almeida como seu principal objetivo: “nosso primeiro projeto é tirar o prefeito David Almeida da cadeira dele. Só assim vamos melhorar a educação”. A frase, embora impactante, careceu de um plano detalhado sobre como isso seria realizado e quais seriam as melhorias concretas para a educação. Anteriormente, Alberto Neto já teria agido acidamente, colocando Roberto Cidade como “marionete do governador”.
Roberto Cidade, por sua vez, tentou destacar seu trabalho como deputado estadual, afirmando: “eu administro a Assembleia e muito bem, eu dou todos os anos as datas-bases dos servidores da casa. A Aleam está muito bem administrada. Eu vim da iniciativa privada. Sempre trabalhei muito”. Contudo, essa autoavaliação não se traduziu em propostas claras para a gestão municipal, deixando mais uma vez a sensação de que o debate serviu mais para autopromoção do que para discutir os reais problemas da cidade.
Ele prosseguiu afirmando obsessivamente que a principal proposta é a construção de 12 UPAS: “hoje Manaus é a única que não tem nenhum hospital funcionando 24h. Eu vou mudar essa história, eu vou colocar pra funcionar 12 UPAS, 12 mini pronto-socorros (…) quem quiser falar de eleição para governo de estado é em 2026”, disparou.
Quando foi questionado pelo Diário da Capital, como seria a contratação de pessoal, se por via de concursos ou iniciativa privada, Cidade não respondeu concretamente como seria efetivada a proposta.