Em meio a novas acusações envolvendo o prefeito David Almeida (Avante), líderes partidários da Câmara Municipal de Manaus não demonstram nenhum interesse em formar os membros da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) contra a Semcom. Recentes publicações apontam que a noiva e a sogra de Almeida, estão sendo favorecidos com contratações milionárias através da Prefeitura de Manaus em contratos com empresas de publicidade.
“Isso não depende de mim e sim dos líderes partidários. Eu já instaurei, só falta a indicação dos membros. Isso não é feito por mim”, disse o presidente da Casa, vereador Caio André (União Brasil), ao ser questionado pelo Diário da Capital.
ENTENDA
A CPI contra a Secretaria de Secretaria Municipal de Comunicação (Semcom) chegou a ser instaurada em abril deste ano, depois de 15 parlamentares assinarem o requerimento. A solicitação de investigação foi motivada pela denúncia sobre pagamento em dinheiro a um portal de notícias da capital, conforme vídeo que passou a circular após o dia 14 de março. As imagens teriam sido gravadas no interior da Semcom, que funciona no mesmo prédio da Prefeitura de Manaus.
Já em maio, os líderes partidários da Câmara Municipal de Manaus (CMM) não conseguiram entrar em consenso na escolha do presidente, vice, relator e demais membros.
LIDERANÇAS PARTIDÁRIAS
Com evidências levantando sérias dúvidas sobre a moralidade dos repasses financeiros realizados pela Prefeitura de Manaus a empresas ligadas aos familiares do prefeito David Almeida, o Diário da Capital, voltou a procurar os líderes partidários para obter esclarecimentos sobre a situação e a possibilidade de reabertura da CPI.
No entanto, até o momento, a maioria dos líderes demonstrou pouco interesse em dar andamento nos trabalhos investigativos, isso porque a CPI tem potencial para virar uma dor de cabeça até mesmo para a oposição, isso porque todos os 41 vereadores também podem virar alvo das investigações.
Para a oposição, a decisão de não reabrir a CPI é vista como uma falta de compromisso com a transparência. “A CPI precisa ter a maior quantidade de líderes para poder colocar os membros. Nós temos hoje uma quantidade de líderes maior do lado da base do prefeito do que o resto, vamos colocar assim. Enquanto eles não colocarem os membros que eles indicarem, a gente não consegue indicar, nós temos 40% e eles 60%. Estão usando isso como uma manobra. Sobre todas as denúncias, enquanto a Câmara for conivente em não aprovar nenhum requerimento, vamos continuar vendo esses escândalos. A base do prefeito é totalmente omissa. A CPI deu bastante trabalho para a gente colher as assinaturas, hoje, dependo da liderança do prefeito para indicar os membros”, afirma o vereador oposicionista William Alemão (Cidadania).
Carpê (PL), na mesma linha, afirmou ao Diário que esse seria um momento ideal para a indicação dos membros da CPI. “Sou um dos co-autores da CPI, tenho um parecer extremamente favorável para a abertura desta CPI, que já deveria estar correndo a todo vapor e nós não podemos normalizar possíveis corrupções. Como líder do Partido Liberal, estou pronto para que os trabalhos se iniciem, inclusive me coloco a disposição para ser o presidente e até mesmo relator dessa CPI”, afirmou.
A equipe do Diário também procurou o vereador Sabino, líder do Republicanos e aliado de David Almeida, mas não obteve retorno. Já o parlamentar Sassá da Construção Civil, líder do Partido dos Trabalhadores, disse que não queria comentar o seu posicionamento, mas salientou que a CPI não vai para frente: “os vereadores comeram abiu”, disse Sassá nos bastidores. Diego Afonso, líder do União Brasil, também foi procurado, mas se recusou a responder os questionamentos do Diário.
Enquanto isso, a CPI segue sendo ignorada por interesses e alianças.
REPASSES MILIONÁRIOS
As acusações que rodeiam a Prefeitura de Manaus, com alegações envolvendo repasses financeiros a empresas ligadas a seus familiares, envolvem Lidiane Fontenelle, (sogra de Almeida), Izabelle Fontenelle (noiva de Almeida) e Gabriel Alexandre da Silva (genro de Almeida).
Recentes reportagens revelaram que a Skyline Produções LTDA, de Izabelle Fontenelle, noiva do prefeito David Almeida, recebeu R$ 120 mil de uma produtora contratada pela Prefeitura de Manaus. Ainda segundo o Estadão, a empresa de Lidiane Fontenelle, mãe de Izabelle, recebeu R$ 124 mil da empreiteira Rio Piorini, também contratada pela prefeitura.
A Prefeitura também teria gasto R$ 2,4 milhões com a Eleven da Amazônia, empresa ligada ao genro do prefeito, Edgard Lima Cordeiro. A empresa obteve contratos em regime emergencial e é controlada por um familiar de Gabriel Alexandre da Silva, casado com a filha de Almeida.
Em resposta, a Prefeitura afirmou que não há ilegalidades nos contratos e que não controla as relações entre empresas terceirizadas e seus fornecedores. A administração também negou qualquer vínculo direto com as empresas mencionadas e assegurou que os processos de contratação seguem normas regulares.
DAVID ALMEIDA NEGA IRREGULARIDADES
Em resposta às acusações, o prefeito David Almeida, nesta terça-feira (27), negou qualquer irregularidade e defendeu a gestão da Prefeitura de Manaus. Almeida criticou os questionamentos, afirmando que são tentativas de desqualificá-lo e constrangê-lo.
“Isso aí é música aos ouvidos, porque não questionam a minha gestão, ninguém questiona a saúde da prefeitura, os atendimentos nas unidades básicas, a educação que tá no melhor momento. Eles estão buscando desqualificar a minha pessoa”, declarou Almeida.
Ele prosseguiu afirmando que não há base legal nas condutas apresentadas e que não existe qualquer crime ou tipificação associada às alegações. “Não existe crime, qual é a tipificação, qual crime?”, perguntou.
Sobre a empresa de Izabelle Fontenelle, Almeida ressaltou que ela já era funcionária antes de seu relacionamento. Quanto à sogra, Lidiane Fontenelle, Almeida afirmou que ela presta serviços como profissional independente, sem qualquer vínculo ou contrato com a prefeitura. Ainda de acordo com Almeida, os veículos de comunicação estão sendo processados. “Foi uma invasão de sigilo fiscal que foram expostos”, afirmou.
Alvo de críticas e investigações, Almeida insiste que não há ligação direta com a administração municipal e que as acusações são infundadas.