<p>A fome avança cada vez mais rápido pelo Brasil. Um levantamento divulgado nesta quarta-feira (8) mostra que <strong>o país soma atualmente cerca de 33,1 milhões de pessoas sem ter o que comer diariamente</strong>, quase o dobro do contingente em situação de fome estimado em 2020. </p>
<p>Em números absolutos, são <strong>14 milhões de pessoas a mais passando fome </strong>no país. </p>
<p>Os dados são do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN).</p>
<p>O 1º inquérito, divulgado em abril do ano passado, estimava em 19 milhões o total de brasileiros que não tinham nada para comer em 2020, cerca de 9 milhões a mais que em 2018, quando essa população somava 10,3 milhões de pessoas. </p>
<p>A crise provocada pela pandemia do coronavírus está diretamente relacionada ao avanço, ainda maior, da fome nos últimos dois anos. </p>
<blockquote class="wp-block-quote"><p>“A pandemia surge neste contexto de aumento da pobreza e da miséria, e traz ainda mais desamparo e sofrimento. Os caminhos escolhidos para a política econômica e a gestão inconsequente da pandemia só poderiam levar ao aumento ainda mais escandaloso da desigualdade social e da fome no nosso país”, apontou Ana Maria Segall, médica epidemiologista e pesquisadora da Rede PENSSAN.</p></blockquote>
<p>De acordo com a rede PENSSAN, a pesquisa foi realizada entre novembro de 2021 e abril de 2022, a partir de entrevistas feitas em 12.745 domicílios, distribuídos em áreas urbanas e rurais de 577 municípios das 27 unidades da federação – 26 estados mais o Distrito Federal. </p>
<p>A metodologia da pesquisa considerou a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia), a mesma utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para mapear a fome no país. </p>
<p>A Ebia classifica a segurança alimentar como sendo o acesso pleno e regular aos alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais. Já a insegurança alimentar é classificada em três níveis - leve, moderada e grave – da seguinte maneira:</p>
<ul><li><strong>Insegurança alimentar leve:</strong> há preocupação ou incerteza quanto acesso aos alimentos no futuro, além de queda na qualidade adequada dos alimentos resultante de estratégias que visam não comprometer a quantidade de alimentação consumida.</li><li><strong>Insegurança alimentar moderada:</strong> há redução quantitativa no consumo de alimentos entre os adultos e/ou ruptura nos padrões de alimentação.</li><li><strong>Insegurança alimentar grave:</strong> há redução quantitativa de alimentos também entre as crianças, ou seja, ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre todos os moradores do domicílio. Nessa situação, a fome passa a ser uma experiência vivida no lar.</li></ul>
<h2>Insegurança alimentar</h2>
<p>A pesquisa mostrou que 125,2 milhões de brasileiros vivem com algum grau de insegurança alimentar, número que corresponde a mais da metade (58,7%) da população do país. </p>
<p>Na comparação com 2020, a insegurança alimentar aumentou em 7,2%. Já em relação a 2018, o avanço chega a 60%. </p>
<p>De acordo com o coordenador da Rede PENSSAN, a perda da segurança alimentar no Brasil está diretamente relacionada à atuação governamental. </p>
<blockquote class="wp-block-quote"><p>“As medidas tomadas pelo governo para contenção da fome hoje são isoladas e insuficientes, diante de um cenário de alta da inflação, sobretudo dos alimentos, do desemprego e da queda de renda da população, com maior intensidade nos segmentos mais vulnerabilizados”, apontou.</p></blockquote>
<p>Maluf enfatizou que as políticas públicas de combate à extrema pobreza desenvolvidas entre 2004 e 2013 restringiram a fome a apenas 4,2% dos domicílios brasileiros. </p>
<h2>Retrato da fome no Brasil</h2>
<p>De acordo com a pesquisa, na média, cerca de 15% das famílias brasileiras enfrentam a fome atualmente. Fatores regionais e sociais, no entanto, agravam a situação. </p>
<p>As estatísticas apontam que a fome: </p>
<ul><li>é mais presente entre as famílias que vivem no Norte (25,7%) e no Nordeste (21%);</li><li>é maior nas áreas rurais, onde atinge 18,6% dos domicílios;</li><li>é realidade na casa de 21,8% de agricultores e pequenos produtores;</li><li>saltou de 10,4% em 2020 para 18,1% em 2022 entre os lares comandados por pretos e pardos;</li><li>atinge 19,3% dos lares sustentados por mulheres e 11,9% dos chefiados por homens;</li><li>em relação a 2020, mais que dobrou entre os domicílios com crianças menores de 10 anos de idade; </li><li>é maior nos domicílios em que a pessoa responsável está desempregada (36,1%);</li><li>saltou de 14,9% para 22,3% nos domicílios sustentados por pessoa com baixa escolaridade;</li></ul>
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<p>Fonte: <a href="https://g1.globo.com/economia/noticia/2022/06/08/fome-no-brasil-numero-de-brasileiros-sem-ter-o-que-comer-quase-dobra-em-2-anos-de-pandemia.ghtml" target="_blank" rel="noreferrer noopener">g1</a></p>