<p>"Muitas famílias que recebem o diagnóstico do espectro autista, associam a doença como um luto, uma criança fadada ao fracasso", afirmou a Psicóloga Taiane Castro. Por conta do difícil processo de aceitação, entrevistamos a médica psicóloga Taiane Castro; a jornalista e professora, Tânia Brandão, e a dentista, especializada na odontopediatria, Mariana Finassi.</p>
<p>O autismo é uma síndrome que afeta vários aspectos da comunicação, além de influenciar também no comportamento do indivíduo. Segundo dados do CDC (Center of Deseases Control and Prevention), órgão ligado ao governo dos Estados Unidos, existe hoje um caso de autismo a cada 110 pessoas.</p>
<p>O Transtorno do espectro autista está dentro dos grupos de neurodesenvolvimento. E, é caracterizado principalmente pelo déficit na comunicação e na interação social. E no prejuízo do desenvolvimento intelectual.</p>
<p>Os sinais são notados principalmente na primeira infância. Mas a casos também de diagnóstico tardio.</p>
<p>O dia 2 de abril foi instituído pela ONU em 2008 como o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. Em 1993, esta síndrome foi adicionada à Classificação Internacional de doenças OMS.</p>
<p>Alguns indivíduos podem ter habilidades acima da média, e outros podem apresentar limitações. Então, neste processo é importante que a Escola promova inclusão, respeitando sempre a necessidade de cada aluno. No que diz respeito ao espaço, e o apoio metodológico.</p>
<p>Estima-se que o Brasil, com seus 200 milhões de habitantes, possua cerca de 2 milhões de autistas. São mais de 300 mil ocorrências só no Estado de São Paulo. Contudo, apesar de numerosos, os milhões de brasileiros autistas ainda sofrem para encontrar tratamento adequado.</p>
<p>Recomenda-se o acompanhamento multiprofissional. Onde cada profissional dentro da sua área, vai atuar para o melhor desenvolvimento do indivíduo. E vai orientar a família como ajudar. </p>
<p>O Psicólogo, por exemplo, ajuda na parte comportamental e emocional. Ajudando na dificuldade de enfrentar situações novas, como o gerenciamento de emoções.</p>
<p>O recebimento e aceitação pelos pais e responsáveis, ainda é um tema que merece bastante atenção. Por conta das inseguranças, e medos que vem acompanhado pelo diagnóstico; a mudança na rotina da família; pelo impacto pessoal e social, que o espectro autista pode causar. Os pais tendem a criar expectativas a respeito dos filhos, no que diz respeito à carreira profissional e propósitos de vida. Apesar de que indivíduos com o diagnóstico de espectro autista podem sim, ter uma carreira profissional, ou um casamento, por exemplo.</p>
<p>Entrevistamos a Dr. psicóloga Taiane Castro, atuante na Central de Psicologia do Amazonas. Quanto à aceitação familiar, que consequentemente, irá influenciar em uma uma busca, ou não, por profissionais especializados. "Na maioria dos casos, há resistência para aceitar o diagnóstico de autismo. É por conta, primeiro, por falta de conhecimento sobre o assunto. E, por conta das expectativas que se criaram acerca daquela criança, daquele filho.</p>
<p>Quando os pais ou responsáveis recebem este diagnóstico, a Psicologia associa muito ao sentimento de luto. É preciso pensar em estratégias de intervenção familiar. Por exemplo, um grupo de pais, para que se troque informações, se deem direcionamentos; falar sobre angústias, medo e experiências com filhos autistas".</p>
<p>O enfermeiro Fabrício Pinto, atuante no Hospital e Pronto Socorro João Lúcio, destacou sua experiência pessoal com seu amigo e vizinho. "Ele tem vinte e um anos agora, o conheci com quinze. Ele foi diagnosticado ainda criança, mas a mãe nunca o tratou como diferente. Não sai de casa, se não for acompanhado por familiares, ou por mim. Nunca trabalhou, ou namorou. Apresenta muita dificuldade na aprendizagem. Concluiu o ensino médio ano passado (2022) com muita dificuldade.</p>
<p>É como uma criança, que tem muita dificuldade em socializar, e em focar em certas coisas, que não sejam do seu próprio interesse. No caso dele, tudo gira em torno de animes. Ele passa o dia todo em casa assistindo animes. Não emite opinião própria, e não tem senso crítico. Geralmente, argumenta no que já foi falado. O único momento em que ele emite um posicionamento, é quando questionado se vai ou não para algum lugar em específico".</p>
<p>A jornalista e professora Tânia Brandão, mãe de um adolescente diagnosticado com espectro autista, explica a dinâmica de abordagem na aprendizagem do filho. "O Jogo, a brincadeira, o Lúdico, são essenciais para a criança que está dentro do espectro autista. </p>
<p>No meu caso, o Thomas (filho da jornalista) é muito visual, ele aprende muito por meio das imagens, por animações. Cada história, brincadeira, criação que a gente fazia dentro deste universo do jogo, que tem suas regras, os seus campos de negociações, permitia que ele compreendesse uma realidade social, onde a costumes, normas, regras, que às vezes escapava da compreensão de mundo dele. Lembro de brincar muito com dramatização, fazer muito teatrinho, muito piquenique dentro de casa. Brincar com objetos do cotidiano, como açucareiro, manteigueira; criar um exército daqueles universos. Objetos que cercam a realidade dele, como forma de unir, embutir naquela brincadeira uma compreensão, uma lição, uma regra social.</p>
<p>E, isso me ajudou muito inclusive na época em que ele começou a entrar na matemática, que também cai no campo do abstrato. Se eu pego um saleiro e junto com um açucareiro, conta, dá quantos objetos? São dois. Então, tudo isso ajudou bastante para o desenvolvimento dele. O Campo do jogo, da brincadeira, porque é um campo de negociação. Você está sempre negociando, sempre aprendendo. É onde você aprende a lidar com as frustrações, a seguir regras, a negociar. Então, na verdade, isso é fundamental para o desenvolvimento de qualquer ser humano".</p>
<p>O Atendimento multiprofissional é fundamental no desenvolvimento da criança. A médica especializada em odontopediatria, Mariana Finassi, relatou algumas de suas experiências em consultorias. "É muito difícil, pelo menos nos meus atendimentos. É muito difícil os pais aceitarem. A gente percebe características, porém, geralmente quem procura os atendimentos especiais são as famílias que já entendem a dificuldade.</p>
<p>Aprendemos as características, o manuseio, ainda na Faculdade. Tivemos disciplina de pacientes especiais, onde atuei com pacientes autistas. Quando você vai para a clínica, atuando como profissional, a gente tende a perceber os sinais e sintomas, que a criança apresenta. Os pacientes mais difíceis que eu tenho hoje, são os pacientes que têm este transtorno. Mas a família não aceita, ignora. Eles recebem como algo ruim, como discriminação. Até desconfiam, mas não buscam tratamento para não ter estereótipo, ignorando o diagnóstico e normalizando os sintomas".</p>
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<h3><strong>E, como seria a abordagem para dar o diagnóstico, ou pontuar as características para família?</strong></h3>
<p> "Com a maioria das famílias, eu não falo na primeira consulta. Minha percepção, porque o dentista já é um lugar onde as pessoas sentem medo. Então, quando se fala sobre doenças, diagnósticos, aponta o dedo para uma ferida, eles não recebem tão bem. Eu prefiro conversar a partir de uma segunda, ou terceira sessão. Começo a pontuar os estereótipos que eu vejo. E, aconselho procurar ajuda médica, até porque, não é só o Autismo. Existem vários outros transtornos.</p>
<p>Alguns vem laudados. É muito raro eles assumirem que a criança tem Autismo. Mas, tem famílias que eu atendo, que são bem estabelecidas quanto ao diagnóstico. Um paizinho que tem um filho menorzinho, levou o filho que possui autismo a inúmeros dentistas, que não entenderam a necessidade dele. Ele levou comigo, e a gente foi trabalhando essa sensibilidade dele. O pai é eternamente grato”.</p>
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<h3><strong>É tímido o comportamento do indivíduo que está submetido ao acompanhamento médico e psicossocial, se comparado ao não diagnosticado?</strong></h3>
<p> "É um trabalho multidisciplinar em relação ao dentista, e ao paciente autista. Quando ele é laudado, quando ele é identificado, toma medicação, faz terapia, ele vem ao dentista muito tranquilo, com menos medo. É uma qualidade de vida para o próprio filho.</p>
<p>Quando os pais negam o diagnóstico, ele nega a possibilidade do filho ter uma condição de vida melhor. Quando você não trabalha com a criança, a limita, por ego, por vergonha da sociedade, se tira do filho a capacidade de evoluir".</p>
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<h3><strong>Quais as vantagens do diagnóstico precoce?</strong></h3>
<p> "O Diagnóstico não é uma sentença de morte. É uma oportunidade de você trabalhar com seu filho de uma maneira diferente. Ele tem um tempo diferente. Ele só é diferente, ele vai ter uma vida diferente. Mas ele não está morto, não está fadado ao fracasso. O que é muito, o que os pais pensam. Muito da recusa, é pensar, que você não fez um filho bem feito".</p>
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<h3><strong>Então, geralmente os pais já desconfiam?</strong></h3>
<p>"Tenho paciência que é nítido. Já falei com a mãe, mas eles negam. O pai acaba influenciando mais nessa negação. Por conta da sociedade machista, acaba caindo mais para a mãe o defeito. A culpando por ter gerado um filho problemático. </p>
<p>A mãe percebe, mas nega para não carregar culpa. Não leva para estimular a criança. Muito pelo pai, e pela família do pai, que não aceitam o estereótipo, que não aceitam que associem isso ao filho deles".</p>
<p>Esta produção Textual foi pautada 100% em relatos de profissionais da área da saúde psicológica e odontológica. Assim como da área de educação, e da convivência de mães, amigos, e de pacientes em consultas médicas. </p>
<p>Caso você pai ou responsável, tenha notado alguns sintomas do espectro autista em seu filho, ou qualquer outra criança, sob sua responsabilidade, procure diagnóstico médico. </p>
<p>"<em>Autismo não é uma sentença de morte</em>". Procure ajuda médica para potencializar o desenvolvimento social, emocional e psicológico da criança.</p>
<p>Produção Textual em alusão ao dia do Autismo, 02 de abril.</p>