<p>Em estudo <a href="https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fcimb.2022.849017" target="_blank" rel="noreferrer noopener">publicado</a> na revista Frontiers in Cellular and Infection Microbiology, um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade de São Paulo (USP) descreveu como uma proteína humana interage com uma proteína do SARS-CoV-2, demonstrando um dos mecanismos usados pelo vírus causador da COVID-19 para recrutar as células e se replicar.</p>
<p>Em testes in vitro, os pesquisadores conseguiram inibir a interação entre as moléculas usando um fármaco e, com isso, reduziram a replicação viral entre 15% e 20%. Com o resultado, o grupo espera contribuir com o desenvolvimento de terapias contra a COVID-19.</p>
<p>“A proteína humana conhecida como PCNA [sigla para Proliferating Cell Nuclear Antigen] interage com a proteína M [matriz] do SARS-CoV-2, uma das moléculas que compõem a membrana do vírus e dão forma a ele. A descoberta em si mostra uma das maneiras pelas quais o patógeno manipula a função da célula para poder seguir seu ciclo de vida”, explica <a href="https://bv.fapesp.br/pt/pesquisador/39599" target="_blank" rel="noreferrer noopener">Fernando Moreira Simabuco</a>, professor da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp, em Limeira, que coordenou o estudo <a href="https://bv.fapesp.br/pt/bolsas/193644" target="_blank" rel="noreferrer noopener">apoiado</a> pela FAPESP.</p>
<p>Em laboratório, o grupo utilizou diferentes técnicas para mostrar como a presença da proteína M do vírus no organismo faz com que a PCNA, uma proteína envolvida no reparo do DNA, migre do núcleo das células – onde ela normalmente se encontra – para o citoplasma, região onde ficam as organelas, responsáveis por importantes funções celulares.</p>
<p>Segundo os pesquisadores, essa migração demonstra que as proteínas viral e humana estão interagindo entre si, o que foi corroborado por outras metodologias.</p>
<p>Outra forma de verificar o fenômeno foi usando um composto que é inibidor da migração de proteínas do núcleo para o citoplasma. Tanto em células tratadas com um composto específico para a PCNA quanto com esse outro que inibe a migração de diferentes proteínas, incluindo a PCNA, o coronavírus teve uma replicação entre 15% e 20% menor quando comparado aos que estavam em células sem tratamento algum.</p>
<p>“Se estivéssemos pensando em uma terapia, talvez essa redução não fosse significativa. Porém, o principal objetivo era demonstrar essa interação e que ela pode ser um alvo para futuros tratamentos”, diz Simabuco.</p>
<p>Em colaboração com pesquisadores do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP, foram analisadas ainda amostras de tecido pulmonar obtidas durante autópsias de pacientes mortos pela COVID-19 (leia mais em: <a href="https://agencia.fapesp.br/32882/" target="_blank" rel="noreferrer noopener">agencia.fapesp.br/32882/</a>).</p>
<p>Foi observado um aumento da expressão tanto da proteína PCNA como de gamaH2AX, proteína considerada um marcador de dano ao DNA, o que reforça os resultados.</p>
<p>“Esse dado pode indicar mais uma consequência da infecção pelo coronavírus”, diz Simabuco.</p>
<p>O trabalho tem como primeira autora <a href="https://bv.fapesp.br/pt/pesquisador/710749" target="_blank" rel="noreferrer noopener">Érika Pereira Zambalde</a>, <a href="https://bv.fapesp.br/pt/bolsas/193644" target="_blank" rel="noreferrer noopener">pós-doutoranda</a> na FCA-Unicamp sob supervisão de Simabuco.</p>
<h2>Novo caminho</h2>
<p>A proteína M se ancora, junto com as proteínas E e S, na membrana que envolve todo o SARS-CoV-2, e é a mais abundante das quatro principais proteínas estruturais do vírus, que levam esse nome por darem forma ao patógeno. Por isso, tem sido vista como um alvo potencial para medicamentos e vacinas.</p>
<p>Por sua vez, a proteína S, da espícula (spike, em inglês), é a mais conhecida por conta do seu papel na ligação com o receptor humano, que a tornou o alvo das principais vacinas atuais.</p>
<p>A proteína humana PCNA, por sua vez, é bastante estudada no contexto do câncer, tema de <a href="https://bv.fapesp.br/pt/auxilios/103784" target="_blank" rel="noreferrer noopener">projeto</a> conduzido por Simabuco na FCA-Unicamp. Na infecção por vírus, porém, muito pouco se sabe sobre o papel dessa proteína humana.</p>
<p>O artigo publicado agora, portanto, abre caminho para novos estudos sobre essa interação entre o coronavírus e a molécula, facilitando o desenvolvimento de tratamentos. Um próximo passo seria a validação das descobertas em modelos animais, o que ainda não há previsão para acontecer.</p>
<p>Parte dos experimentos foi realizada no Laboratório de Estudos de Vírus Emergentes (<a href="http://leve.ib.unicamp.br/" target="_blank" rel="noreferrer noopener">LEVE</a>), coordenado por <a href="https://bv.fapesp.br/pt/pesquisador/39705" target="_blank" rel="noreferrer noopener">José Luiz Proença Módena</a> no Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, que é <a href="https://bv.fapesp.br/pt/auxilios/106222" target="_blank" rel="noreferrer noopener">apoiado</a> pela FAPESP.</p>
<p>O estudo teve ainda colaboração dos grupos de pesquisa coordenados por <a href="https://bv.fapesp.br/pt/pesquisador/5156" target="_blank" rel="noreferrer noopener">Armando Morais Ventura</a>, professor do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, e <a href="https://bv.fapesp.br/pt/pesquisador/522329" target="_blank" rel="noreferrer noopener">Henrique Marques-Souza</a>, professor do IB-Unicamp.</p>
<p>O artigo Characterization of the Interaction Between SARS-CoV-2 Membrane Protein (M) and Proliferating Cell Nuclear Antigen (PCNA) as a Potential Therapeutic Target pode ser lido em: <a href="https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fcimb.2022.849017/" target="_blank" rel="noreferrer noopener">www.frontiersin.org/articles/10.3389/fcimb.2022.849017</a>.</p>
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<p>Fonte: <a href="https://acritica.com/saude/estudo-revela-como-o-virus-da-covid-19-manipula-as-celulas-para-se-replicar-1.273847" target="_blank" rel="noreferrer noopener">ACrítica</a></p>