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Estiagem encarece cesta básica no interior e matéria-prima em Manaus

Dependente de transporte fluvial, Tabatinga observou aumento de 25% na cesta básica, enquanto a banana fica mais cara na capital

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September 26, 2023
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A intensa estiagem registrada no Amazonas em 2023 tem impacto direto no bolso da população, principalmente por conta do preço da cesta básica. Enquanto os municípios mais afetados observam aumento de 25% no conjunto de alimentos, como no caso de Tabatinga (a 1.108 quilômetros a oeste de Manaus), a capital registrou alta no valor das matérias-primas com origem no interior, a exemplo da banana.

As informações são de um projeto de iniciação científica do Instituto Federal do Amazonas (Ifam) em Tabatinga e de levantamento do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Economia (Nepe) da UEA e refletem a dinâmica de preços afetada pela logística em situação de rios mais secos. De acordo com registro do site Proa Manaus, o Rio Solimões superou os 20 centímetros em Tabatinga no dia 23 de setembro, após dias com marcas negativas, chegando a -43 centímetros.

Em agosto deste ano, quando a seca já atingia níveis mínimos, a cesta básica no município contabilizava R$ 168,80, levando em conta produtos como arroz, feijão, macarrão, farinha regional, carne, óleo, açúcar, café, leite, pão, farinha de trigo, ovos e margarina. Em julho, esse valor era 18% menor. Na comparação com agosto de 2022, a diferença é de quase 25%. A pesquisa é realizada por discentes do curso técnico em Administração do Ifam.

Para o diretor do Ifam Tabatinga, Nicolas Neves, a dificuldade de navegação na região impacta diretamente nos custos de transporte, o que chega ao consumidor final. “Dada as atuais condições dessa seca, já se comenta que algumas embarcações não subirão de Manaus para cá, ou vão trazer somente passageiros, o que é um problema, porque 99% do que a gente consome aqui é suprido pelo transporte fluvial”, disse.

Neves constatou que a situação é ainda mais crítica em Benjamin Constant, município vizinho. O escoamento dos produtos de Tabatinga para lá ocorre através de grandes canoas, visto que os barcos convencionais já não avançam mais no atual estado do rio. “O empresário que tem um mercado está pagando um frete a mais: o da grande embarcação e das grandes canoas. E não são só produtos da cesta básica. Dependendo da situação, combustível e até materiais de construção são levados”, relatou.

Efeito reverso

Enquanto as cidades mais dependentes do transporte fluvial sofrem com aumentos generalizados nos preços, em Manaus o impacto deverá se acentuar nos produtos com origens nesses municípios, como é o caso da banana. Em agosto, a fruta teve um aumento de 2,3% com relação ao mês anterior, e alta de 5,26% comparado a janeiro, considerando a banana prata. Os dados são do Núcleo de Estudo e Pesquisa em Economia (Nepe).

Economista e coordenador do núcleo, Neuler André observa que a cesta básica em Manaus sofreu uma redução de 6,74% em agosto, na comparação com janeiro. Contudo, é esperado que os produtos importados fiquem mais caros. “O barco que transportava 50 sacos de farinha, agora transporta menos da metade. Isso tem um impacto no bolso do atravessador, do produtor e, principalmente, nas vendas. Uma coisa que a gente vai perceber em breve é o aumento do preço da farinha”, estimou.

Neuler alerta para a necessidade de políticas públicas e uso de inovação e tecnologia para lidar com o fenômeno anual, no sentido de, pelo menos, amenizar os impactos. “A gente tem mão de obra qualificada e know-how para pensar alternativas para melhorar o sistema de embarcação. Aí que se faz importante a presença da pesquisa científica para desenvolver novas tecnologias e superar essas dificuldades logísticas”.

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