Matérias
Amazonas

“Estaríamos vendo o futuro repetir o passado?”

Escrito por
Saulo Maciel
May 12, 2022
Leia em
X
min
Compartilhe essa matéria

<p>Jamais pensei citar algo do Cazuza em meus textos, porém o poeta atemporal ganhou lugar no título do texto de hoje pois o termo cabe como uma luva.</p>

<p>O momento é bem oportuno para relembrar. Apesar de ser quinta-feira, que carrega a famosa “hashtag” #TBT (Throwback Thursday) usada para relembrar momentos marcantes já vividos, estamos aqui hoje para recordar algo que vivemos, mas que foi interrompido. Algo que nos foi tirado. Um ciclo virtuoso que nos poderia ter levado a lugares maiores e melhores.</p>

<p>Mas, afinal, quem raios foi José Bernardino Lindoso ou Governador José Lindoso, que dá nome à conhecida “Avenida das Torres”?</p>

<p>José Lindoso era natural de Manicoré (AM), casado com Amine Daou Lindoso, com quem teve 7 filhos. Faleceu aos 73 anos, em Brasília, na data de 25/01/1993. Foi o sucessor de Henoch da Silva Reis (nome dado ao fórum cível da capital Manaus).</p>

<p>Antes de se tornar governador, Lindoso já era advogado, doutor em direito (1951), profissional técnico, professor, membro da Academia Amazonense de Letras. Foi deputado federal (1967–1971) e então governador do Estado do Amazonas entre os anos de 1979 e 1982.</p>

<p>José Lindoso tinha uma visão de desenvolvimento do Amazonas muito bem definida para a sua época; por meio da edição da lei nº 1.370, de 1979, trazia um novo formato de incentivos fiscais para o Estado do Amazonas e, além desse novo formato, dava adicional de restituição do Imposto de Circulação de Mercadorias (ICM) a empresas localizadas no interior. O ICM restituído das empresas, que poderiam estar localizadas em qualquer parte do território do Estado do Amazonas, incluindo o Polo Industrial de Manaus (PIM), deveria ter sua aplicação de acordo com uma lista de atividades determinadas pelo governo, com a finalidade de desenvolver o interior do Estado. Era o Plano de Interiorização do Desenvolvimento.</p>

<p>O Amazonas estava no caminho certo para um crescimento exponencial, mas José Lindoso foi sucedido por Gilberto Mestrinho de Medeiros Raposo.</p>

<p>Mestrinho foi auditor fiscal e político, elegeu-se governador do Amazonas após ter-se unido ao empresariado local e disparado: — Quem faz TV não pode criar boi nem galinha!</p>

<p>É que, naquele tempo, os empresários locais não queriam investir no interior, não queriam que a Zona Franca de Manaus (ZFM) se expandisse conforme o planejamento de Lindoso. Uma ideia que atualmente tornou visível isolamento dos municípios do interior, pois restou impedido o compartilhamento de riquezas geradas no PIM para estes, levando pouco desenvolvimento econômico e humano para o restante da região.</p>

<p>Ainda, certa vez, em um programa de televisão famoso naquela época (1983), Mestrinho disse que seu grupo político governaria o Amazonas por mais 20 anos. Não mentiu, visto que Amazonino Mendes, Eduardo Braga, Omar Aziz e José Melo, todos são descendentes políticos do “Boto Navegador”, querendo ou não.</p>

<p>Gilberto Mestrinho foi o primeiro a desferir ataque frontal contra o modelo ZFM, quando revogou a obrigatoriedade de investimento no interior do Estado e, após, reduziu a pó o incentivo ao comércio, cobrando o ICM (atual ICMS) – não só o cobrou como o fez antecipadamente. Isso matou o comércio local, uma vez que não tinham caixa para essa modalidade de operação, e, como consequência enfraqueceu o turismo, na medida em que os preços subiram e a vantagem competitiva que atraía milhares de pessoas à capital amazonense desapareceu.</p>

<p>Após esse episódio, tivemos a eleição de Fernando Collor, que abriu o mercado brasileiro — sem nenhum preparo ou planejamento — para o mercado estrangeiro, acentuando a ferida causada à atividade comercial no Brasil. Logo após estávamos numa crise sem precedentes, com inflação (por muitos outros fatores), e a cereja do bolo foi o confisco das cadernetas de poupança pelo país.</p>

<p>Atualmente, temos amazonenses subindo em motos produzidas pelo Polo Industrial de Manaus, que gera desenvolvimento para o Estado, realizar motociata aplaudindo quem quer nos destruir. Tal qual apoiaram Mestrinho para governador há pouco mais de 30 anos.</p>

<p>Na quinta-feira passada, 5 de maio de 2022, Amazonino Mendes, ex-governador do Estado e atual pré-candidato ao cargo executivo estadual, postou com a “hashtag” #tbt uma foto nas redes sociais ao lado de Gilberto Mestrinho com a seguinte legenda: “<strong><em><u>Gilberto Mestrinho povoa minha vida desde a juventude</u></em></strong><em>. Foi um homem que despertou em mim respeito e admiração. <strong><u>Ajudou muito na minha formação</u></strong>. Antes de qualquer coisa, <strong><u>ele era um sábio. Foi o melhor homem que tivemos em nosso processo político</u></strong></em>”.</p>

No items found.
Matérias relacionadas
Matérias relacionadas