O estado do Pará, prestes a sediar a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), enfrenta um sério desafio estrutural: a precariedade no saneamento básico. Santarém, um dos principais municípios paraenses, foi classificado como o pior entre as 100 maiores cidades do Brasil no Ranking do Saneamento 2025, divulgado pelo Instituto Trata Brasil com base em dados do SNIS (ano-base 2023).
De acordo com o Trata Brasil, apenas 48,49% da população tem acesso à água potável, e somente 3,77% contam com coleta de esgoto. Além disso, apenas 8,61% do esgoto gerado é tratado, enquanto 48,72% da água potável é desperdiçada antes de chegar às residências.
Segundo o levantamento, Santarém investe apenas R$ 37,35 por habitante em saneamento, o que representa 16,7% do valor mínimo considerado ideal pelo Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab), estimado em R$ 223,82 por pessoa. A baixa aplicação de recursos é apontada como um dos principais obstáculos para a ampliação e melhoria dos serviços.
Sem planejamento estruturado e aumento significativo dos investimentos, a universalização do saneamento segue distante da realidade do município.
A situação de Santarém é um reflexo de um cenário ainda mais amplo no estado do Pará, que também apresenta desempenho crítico em saneamento básico. Apenas 51,6% da população paraense tem acesso à água potável, enquanto só 17,3% conta com coleta de esgoto. Do total de esgoto gerado, apenas 19,3% passa por tratamento.
Os dados colocam o estado em estado de alerta, especialmente diante das metas estabelecidas pelo Novo Marco Legal do Saneamento, que exige, até 2033, a universalização do acesso à água potável (99%) e a ampliação da coleta e tratamento de esgoto para 90% da população brasileira.
Cenário crítico
A escolha de Belém como sede da COP30 projetou o Pará para o centro do debate global sobre mudanças climáticas e sustentabilidade. No entanto, os números do Ranking do Saneamento 2025 escancaram um paradoxo: enquanto líderes internacionais discutirão soluções para o futuro do planeta, milhões de pessoas no próprio estado anfitrião ainda vivem sem acesso a serviços básicos de saneamento.
Para especialistas, o contraste reforça a urgência de tratar o saneamento como uma prioridade nas políticas públicas, dado seu impacto direto na saúde, na dignidade humana e na preservação ambiental, especialmente em uma região que pretende se apresentar ao mundo como símbolo de compromisso com o desenvolvimento sustentável.