<p>O bilionário Elon Musk anunciou, via Twitter, que lançará a rede Starlink para conectar 19 mil escolas em áreas rurais e monitorar a Amazônia. O empresário chegou ao Brasil na manhã desta sexta-feira (20) para encontro com o presidente Jair Bolsonaro, políticos e empresários.</p>
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<figure class="wp-block-image"><img src="https://s2.glbimg.com/SIdsK7BOvRc6ejTV9LTi5bND87k=/0x0:609x118/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/f/5/mJmpxvSEmH3XE3IwFw5Q/musk-brasil.jpg" alt="Elon Musk fez anúncio na manhã desta sexta-feira (20), via Tweeter. — Foto: Reprodução"/></figure>
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<p>Elon Musk fez anúncio na manhã desta sexta-feira (20), via Twitter. — Foto: Reprodução</p>
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<p>O encontro ocorre em um evento no interior de São Paulo. A informação foi antecipada na última quinta (19) pelo colunista Lauro Jardim, de "O Globo".</p>
<p><strong>Musk não deu detalhes sobre os serviços que pretende prestar</strong> e nem quando isso aconteceria. O governo federal também não confirmou as informações divulgadas pelo empresário até o momento. Mas o ministro das Comunicações, Fábio Faria, postou nas redes sociais que Musk veio "para tratar com o governo brasileiro sobre Conectividade e Proteção da Amazônia".</p>
<p>O Brasil já tem mecanismos tecnológicos para monitoramento da Amazônia. Desde 1988, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, recebe e processa os dados sobre perda de floresta. As imagens são obtidas via satélite e o nível de precisão é de 95%, segundo o próprio instituto <strong><em>(leia mais ao fim da reportagem)</em></strong>.</p>
<p>Elon Musk, que em abril anunciou acordo de compra do Twitter por cerca de US$ 44 bilhões (aproximadamente R$ 215 bilhões), é o homem mais rico do mundo e tem um patrimônio avaliado em US$ 219 bilhões (cerca de R$ 1 trilhão), segundo ranking da "Forbes".</p>
<p>Ele é dono da empresa de transporte espacial SpaceX, onde opera também o serviço de internet via satélite, e comanda a Tesla, fabricante de carros elétricos.</p>
<p>Na véspera da vinda ao Brasil, ele se defendeu de uma acusação de assédio sexual contra uma funcionária da SpaceX.</p>
<h2>Starlink e SpaceX</h2>
<p>Em janeiro, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) concedeu o direito de exploração no Brasil de satélite estrangeiro não-geoestacionário de baixa órbita para a Starlink, sistema de satélites da SpaceX, de Musk. Com isso, a empresa vai poder oferecer seu serviço de internet em todo o território brasileiro, com direito de exploração até 2027.</p>
<p>A autorização da Anatel foi concedida após reunião do ministro Fábio Faria com Musk nos Estados Unidos, em novembro do ano passado.</p>
<p>Em fevereiro deste ano, o governo do Amazonas também informou manter contato com a SpaceX para a instalação de tecnologia da empresa do bilionário no estado. Musk já havia manifestado interesse em iniciar operações da Starlink na região.</p>
<p>Na manhã desta sexta, em uma conversa com alunos do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Musk foi questionado sobre como poderia garantir que as operações da Starlink na Amazônia promovam a proteção da floresta e a privacidade dos dados coletados.</p>
<p>O magnata disse que a Starlink tem uma política bem rigorosa dos dados: "Mesmo que quiséssemos, não saberíamos qual dado pegar", afirmou. "Sobre proteger a Amazônia, temos que usar os dados, porque a Amazônia é gigantesca. Se você tentar fazer um monte de fotos e vídeos para entender o que esta acontecendo, a quantidade de dados a ser transmitida será enorme, então, precisamos dessa conectividade para monitorar a Amazônia efetivamente."</p>
<h2>A nova 'corrida' dos bilionários</h2>
<p>O fornecimento de internet via satélite para locais remotos é outro ramo em que os bilionários Musk e Jeff Bezos, dono da Amazon, concorrem, além do turismo espacial.</p>
<blockquote class="wp-block-quote"><p>Ambos trabalham nas chamadas "constelações de satélites", que têm o objetivo de levar conexão para áreas remotas em todo o planeta.</p></blockquote>
<p>A SpaceX, de Musk, está à frente na corrida e já lançou mais de 1.800 satélites. A empresa quer chegar a uma rede com 42.000 equipamentos em operação no espaço, mas precisa do sinal verde da Comissão Federal de Comunicações (FCC), equivalente americana da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).</p>
<p>Já a Amazon trabalha no Project Kuiper. A companhia não tem satélites em operação, mas, em novembro de 2021, recebeu autorização da FCC para operar uma constelação com 3.236 unidades.</p>
<p>Bezos também é dono de uma empresa de transporte aeroespacial, a Blue Origin — a mesma que levará o brasileiro Victor Hespanha ao espaço.</p>
<p><strong>Mas por que Musk e Bezos investem na internet via satélite quando já existe fibra óptica?</strong> A resposta pode estar na própria fibra óptica: para oferecerem esse tipo de internet, as empresas precisam criar uma grande rede de cabos, o que não é viável financeiramente para qualquer local.</p>
<p>É comum que esse tipo de infraestrutura se concentre nas cidades onde os provedores entendem que terão um retorno considerável. Em regiões remotas, a oferta desses serviços é limitada e, em alguns casos, é preciso recorrer ao serviço de internet via satélite, que já é oferecido por várias empresas.</p>
<h2>Foco em regiões distantes</h2>
<p>A internet via satélite existe há anos, mas Musk, Bezos e outros investem em outro modelo do serviço. Hoje, a maioria dos provedores desse tipo de rede usa grandes satélites em órbita geoestacionária, isto é, que acompanham a rotação da Terra e permanecem sobre uma mesma região.</p>
<blockquote class="wp-block-quote"><p>No caso do Starlink e do futuro serviço da Amazon, os satélites ficam na chamada órbita terrestre baixa, mais próxima da Terra. Eles estão próximos à Estação Espacial Internacional e ao telescópio Hubble.</p></blockquote>
<p>Com uma distância menor, os novos satélites prometem diminuir a latência, que indica quanto tempo uma informação leva para sair de um ponto e chegar ao seu destino. Nos dois casos, porém, o foco está em regiões distantes de grandes centros.</p>
<h2>Escolas sem internet</h2>
<p>Segundo a "Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nas escolas brasileiras" (TIC Educação 2020), a Região Norte tem o menor percentual de instituições de ensino com acesso à internet:</p>
<ul><li>Centro-Oeste: 98%</li><li>Sul: 97%</li><li>Sudeste: 94%</li><li>Nordeste: 77%</li><li>Norte: 51%</li></ul>
<p>A mesma pesquisa evidenciou que o problema não é apenas a falta de acesso à rede, mas também a baixa porcentagem de colégios da região Norte com computadores: só 63% têm alguma máquina para os alunos e funcionários usarem. A média nacional está bem acima disso (87%).</p>
<p>Em dezembro passado, o governo federal lançou o Programa Internet Brasil, criado para dar acesso gratuito à banda larga móvel para alunos carentes de escolas públicas — a iniciativa tinha sido vetada por Bolsonaro e depois foi criada por meio de Medida Provisória.</p>
<p>Com investimento previsto de R$ 140 milhões, ela atenderá inicialmente somente seis municípios, todos no Nordeste, e exigirá que o estudante tenha aparelho celular, já que o acesso será pela distribuição de chips.</p>
<p>O leilão da internet 5G, realizado no ano passado, também tem como contrapartida o investimento na conexão das escolas. Foram garantidos R$ 3,1 bilhões para esse fim junto das operadoras que vão explorar o serviço: menos da metade do esperado, que era R$ 7,6 bilhões.</p>
<h2>Monitoramento da Amazônia</h2>
<p>O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, conta com três tipos de sistemas de monitoramento da Amazônia atualmente:</p>
<ul><li>o Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes);</li><li>o Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter);</li><li>e o TerraClass, que mapeia o uso da terra após o desmatamento, em parceria com a Embrapa.</li></ul>
<p>O Prodes levanta as taxas anuais de desmatamento. São usadas aproximadamente 220 imagens do satélite americano Landsat-5/TM, que tem de 20 a 30 metros de resolução espacial (ou seja, cada ponto da imagem corresponde a uma área de 400 a 900m²).</p>
<p>Já o Deter é usado desde 2004 para detectar o desmatamento em "tempo real" em áreas maiores do que 3 hectares (30 mil m²). O sistema serve de alerta para dar apoio a ações de fiscalização do Ibama e não deve ser entendido como taxa mensal de desmatamento.</p>
<p>Por fim, há a divulgação dos dados do TerraClass feita a cada dois anos. O objetivo é saber qual foi o uso da terra após o desmatamento. O levantamento é feito em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).</p>
<p>Apesar da alta taxa de desmatamento detectada, com mais de 13 mil km² de desmatamento pela plataforma Prodes (leia abaixo os sistemas do Inpe), o monitoramento não resulta em fiscalização: dados divulgados em fevereiro deste ano apontam que apenas 1,3% dos alertas resultaram em ações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama).</p>
<p>Para Tasso Azevedo, coordenador do Mapbiomas e especialista em monitoramento ambiental, a oferta de Musk seria bem vinda, mas não substitui o que já existe. "Não são satélites óticos, eles não conseguem enxergar coisas na superfície, no território, o que é usado para fazer monitoramento do desmatamento", explica.</p>
<p>"O monitoramento do desmatamento está sendo feito com excelência pelo Inpe e várias outras organizações, o Mapbiomas é uma delas também. Não é por falta de achar desmatamento e monitorar, que a gente não tem fiscalização e controle do desmatamento. Pelo contrário, o que falta é essa parte da fiscalização e do controle", afirmou.</p>
<p>"(Os Starlink) são satélites de comunicação, para prover internet em alta velocidade, e isso sim é muito bom. Vai permitir ter internet em qualquer lugar basicamente do planeta."</p>
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<p>Fonte: <a href="https://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2022/05/20/elon-musk-anuncia-lancamento-do-starlink-para-conectar-19-mil-escolas-e-monitoramento-da-amazonia.ghtml" target="_blank" rel="noreferrer noopener">g1</a></p>