Os recentes desafios enfrentados devido à mineração de sal-gema em Maceió pela empresa Braskem, que colocou áreas em risco de desabamentos, resgatam memórias de tragédias como as de Mariana e Brumadinho, levantando a questão crucial: é possível conciliar o desenvolvimento econômico no setor mineral com a qualidade de vida da sociedade?
Pedro Luiz Côrtes, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, examina o cenário atual, estabelecendo conexões com o passado para responder a essa indagação.
Mineração Sustentável
Côrtes destaca que é possível desenvolver a mineração sustentável dentro de determinados parâmetros, mas alguns estigmas na sociedade surgiram devido a questões como o garimpo ilegal na Amazônia, associado ao narcotráfico e desmatamento. Além disso, empresas que negligenciam a segurança contribuem para a má reputação, como observado em casos como Mariana, Brumadinho e na operação da Braskem.
O professor salienta que a mineração sempre causará algum impacto ambiental, mas destaca a importância do licenciamento ambiental, gestão de resíduos, conservação de biodiversidade e eficiência energética para tornar a operação sustentável.
Participação da População
Côrtes ressalta que a população também deve contribuir ativamente, participando nos processos de reciclagem para equilibrar mineração e sustentabilidade. Ele destaca exemplos positivos, como a quantidade de alumínio reciclado no Brasil em 2022, praticamente igual à quantidade de alumínio utilizado nos processos industriais.
Impactos Sociais
O especialista aponta que nem todas as empresas consideram o impacto nas comunidades locais. Há uma tendência para o "licenciamento social para minerar", onde empresas realizam consultas populares antes de se instalarem para analisar os anseios da comunidade. No entanto, Côrtes alerta sobre o aumento do custo de vida local sem benefícios diretos para os moradores.
Experiência Internacional
Ele compara a prática brasileira com a da Noruega, onde recursos provenientes da exploração do petróleo são destinados a um fundo que subsidia a Previdência Social do país, indicando que o Brasil pode aprender com modelos mais sustentáveis.
Em meio aos desafios, Côrtes destaca a importância do monitoramento ambiental constante e atenção à cadeia de suprimentos para garantir a sustentabilidade e minimizar os impactos sociais. A busca por um equilíbrio entre mineração e qualidade de vida é fundamental para um desenvolvimento econômico responsável e sustentável.