Caos viário: Manaus supera 1 milhão de veículos; motos devem liderar frota até 2030

Com uma frota que ultrapassou 1 milhão de veículos, Manaus chega ao Dia Mundial do Trânsito e da Cortesia ao Volante, estabelecido neste 5 de maio, enfrentando um dos momentos mais críticos da história em termos de mobilidade urbana.

Segundo dados mais recentes do Departamento Estadual de Trânsito do Amazonas (Detran-AM), a capital amazonense atingiu em abril de 2025 a marca histórica de 1.004.021 veículos registrados. Desse total, 455.608 são automóveis e 337.464 são motocicletas.

Para o especialista em mobilidade urbana Manoel Paiva, o crescimento da frota em Manaus — que aumentou 23% apenas entre 2021 e 2025 — não veio acompanhado da expansão e modernização da infraestrutura viária, o que tem agravado os congestionamentos, a insegurança no trânsito e os problemas de mobilidade urbana. Ainda segundo Paiva, nos anos 2000 a cidade tinha pouco mais de 169 mil veículos. Atualmente, são quase seis vezes mais.

“Com o crescimento da frota, surge a pergunta sobre se a infraestrutura das ruas em Manaus está preparada para suportar esse aumento? A falta de vias adequadas, a baixa qualidade da drenagem e pavimentação, além da insuficiência de sinalização pode resultar em congestionamentos estressantes, insegurança viária, maiores riscos de acidentes, aumento das vítimas lesionadas e fatais”, aponta.

Paiva afirma que até 2030 as motocicletas devem ultrapassar os automóveis e se tornar o principal meio de transporte individual — impulsionadas pela busca por alternativas mais baratas, rápidas e acessíveis. “Acreditamos que em 2030 as motocicletas irão representar mais de 50,0% da frota circulante em Manaus, para o transporte individual de cargas e passageiros”, afirmou o especialista ao Diário da Capital.

Ele também aponta que a infraestrutura da cidade está longe de ser compatível com o volume atual de veículos nas ruas. “Nosso trânsito é inseguro, caótico, estressante, violento, segregador e excludente. Estamos vivendo o princípio do caos urbano”, alerta.

Segundo Paiva, Manaus tem hoje 2,27 habitantes por veículo, uma diferença brutal quando comparada a décadas anteriores. Em 1970, por exemplo, eram 29,7 habitantes para cada veículo. O crescimento acelerado, por outro lado, tem consequências diretas na segurança.

De acordo com o Instituto Municipal de Mobilidade Urbana (IMMU), em 2024, foram 309 mortes no trânsito, uma média de 25,6 vítimas fatais por mês. Do total, 158 foram motociclistas, um aumento de 32% em relação a 2023. A popularização do serviço de mototáxi e transporte por aplicativo com motos está entre os fatores que contribuem para esse cenário. Já em 2025, 73 mortes foram registradas. 

O IMMU foi questionado sobre quais ações de conscientização e educação no trânsito estão sendo realizadas atualmente, mas não respondeu até o fechamento desta matéria.

Transporte público deficitário gera demanda por veículos particulares

A análise do especialista mostra que apenas 2% da frota da cidade está dedicada ao transporte coletivo para utilizar nos horários de pico, enquanto 93% serve ao transporte individual, que atende apenas 40% da população.

Paiva propõe medidas como reavaliação das rotas de ônibus, melhorias na infraestrutura para pedestres e ciclistas e regulamentação adequada do transporte por aplicativo como alternativas urgentes para mitigar o caos.

“Não temos dúvida nenhuma, que a solução para esse grave problema que convivemos, a cada ano vai piorar, os acidentes tendem a aumentar, o número de vítimas fatais também, caso os gestores não se proponham a rever o confuso sistema atual de mobilidade e priorizar o transporte coletivo das pessoas que moram na periferia, melhorar as condições de caminhabilidade dos pedestres, implantar melhorias aos ciclistas e intensificar a operação do sistema viário, fiscalizando as vias para evitar que tanta gente morra no trânsito todo dia”, alerta.

Ações de conscientização e fiscalização seguem ativas

Apesar das dificuldades, o Detran-AM, ao ser questionado pela reportagem, afirma que mantém ações de conscientização por meio da Escola Pública de Trânsito (Eptran), com cursos gratuitos. As operações da Lei Seca e fiscalização de condutores e veículos continuam sendo realizadas regularmente.

“O órgão também efetua regularmente operações da Lei Seca, que visam reduzir o número de acidentes de trânsito causados por embriaguez, e operações de fiscalização de irregularidades relacionadas a condutores, veículos de grande e pequeno porte e motocicletas”, destacou em nota o Detran-AM.

O Detran-AM também foi questionado sobre como o órgão vem se preparando para lidar com o crescimento da frota de veículos na capital, mas não respondeu até o fechamento desta matéria.

Cortesia e empatia ainda são raras no trânsito

No Dia Mundial da Cortesia ao Volante, os desafios de convivência nas vias ganham ainda mais relevância. Em meio a buzinas, disputas por espaço e desrespeito à sinalização, a ideia de um trânsito mais humano parece, para muitos, uma utopia distante.

Mas, para Manoel Paiva, a mudança começa com atitudes simples, como respeitar o pedestre, dar passagem e entender que o trânsito deve servir às pessoas — não apenas aos veículos.

“As cidades são das e para as pessoas, em Manaus temos que priorizar os pedestres, os usuários do transporte coletivo, os PcDs, as pessoas de baixa mobilidade, os ciclistas, a população”, conclui.

Atos como respeitar os limites de velocidade, dar prioridade aos pedestres nas faixas, usar o cinto de segurança, manter distância segura de outros veículos e sinalizar corretamente as manobras fazem toda a diferença no dia a dia das ruas. 

Também é essencial respeitar as vagas especiais, usar cadeirinha para o transporte de crianças, ajustar retrovisores e bancos antes de dirigir, além de redobrar os cuidados em dias de chuva. 

Além disso, evitar atitudes agressivas, como xingar, buzinar sem necessidade ou responder a provocações, contribui para um trânsito mais humano. Ter atenção redobrada com ciclistas, motociclistas e pedestres, manter a calma, praticar a direção defensiva e utilizar os faróis de forma adequada são atitudes que salvam vidas e tornam a convivência no trânsito mais segura e respeitosa para todos.