Segurança

“As palavras-chave são: ação integrada e cooperação”, disse Lula ao inaugurar CCPI Amazônia em Manaus

Coordenado pela Polícia Federal, o projeto prevê a colaboração entre as forças de segurança do Brasil, dos nove estados da Amazônia Legal e de outros oito países que compartilham a região amazônica

Escrito por Camila Seixas
9 de setembro de 2025
Fotos: Renata Barreiros/Diário da Capital

Combate a crimes ambientais e rotas de materiais ilícitos em defesa da Amazônia Legal, berço da maior biodiversidade do planeta: essa é a missão do Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia (CCPI Amazônia), inaugurado oficialmente nesta terça-feira (9/9) pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em Manaus. 

A cerimônia aconteceu na sede da CCPI Amazônia, no bairro Dom Pedro, na zona Centro-Oeste da capital, e teve a participação de representantes de chefes de Estado, diplomatas, forças de segurança e órgãos ambientais. 

Coordenado pela Polícia Federal, com investimento de R$ 36,7 milhões por parte do Fundo Amazônia, o projeto prevê a colaboração entre as forças de segurança do Brasil, dos estados da Amazônia Legal e de outros oito países que compartilham a Floresta Amazônica: Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela; com foco na proteção ambiental, na cooperação transfronteiriça e no desenvolvimento sustentável da região amazônica.

Durante a cerimônia, Lula destacou a ampliação do efetivo da Polícia Federal para fortalecer a segurança da Amazônia Legal também fora do Brasil. “Uma das consequências perversas da globalização é a articulação de grupos criminosos para além das fronteiras nacionais. Trata-se de verdadeiras multinacionais do crime, que estão embrenhadas nos órgãos públicos, nas empresas e em diversos setores da sociedade, com conexões dentro e fora do país. Por isso, ampliamos nossa rede de adidâncias da Polícia Federal para 34 postos nos cinco continentes. Agora, estaremos presentes em todos os países da América do Sul”, disse. 

Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República — Foto: Renata Barreiros/Diário da Capital 

Para o presidente, a iniciativa reforça a soberania nacional na tomada de decisões para solucionar os problemas do país. 

“É a primeira vez na história da Amazônia que tantos atores se reúnem no mesmo espaço físico em torno do objetivo comum. Não precisamos de intervenções estrangeiras, nem de ameaças à nossa soberania. Somos perfeitamente capazes de sermos protagonistas das nossas próprias soluções. As palavras-chave são: ação integrada e cooperação”, reforçou Lula. 

Além de combater crimes ambientais, a CCPI Amazônia é um dos planos de ação do governo federal para zerar o desmatamento pelos próximos cinco anos, meta citada pelo presidente Lula nesta terça-feira. “Com a união de todos, conseguiremos cumprir a meta de zerar o desmatamento até 2030. Para combater o crime de forma efetiva é preciso neutralizar suas lideranças e seus mecanismos de financiamento”, disse ao citar a segurança integrada do novo centro. 

María José Pinto González, vice-presidente do Equador, citou que o plano de colaboração também luta contra o recrutamento e uso de crianças e adolescentes por redes criminosas, principalmente com a expansão do garimpo ilegal e da exploração sexual de menores. 

María José Pinto González, vice-presidente do Equador — Foto: Renata Barreiros/Diário da Capital 

“Esta é uma ferida aberta, compartilhada por todos os países da região [amazônica]. Quando as crianças são tiradas de sua infância, não apenas um país é perdido, se perde também a humanidade. Nossas crianças não podem ser soldados do crime, não podem ser vítimas de violência, nem instrumentos de uma economia ilegal que destrói nossos sonhos. Proteger-los é uma responsabilidade comum e urgente”, reforçou Maria, ao concluir que crianças merecem crescer “livres e seguras”. 

Entre as autoridades presentes também estavam o presidente da Colômbia, Gustavo Petro; o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski; a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva; o Ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira; e o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante. 

Atuação da Polícia Federal

Funcionando desde junho de 2025, de maneira remota, a CCPI Amazônia tem contribuído para operações da Polícia Federal no combate a crimes na região amazônica. De acordo com o delegado federal Humberto Freire, diretor da Amazônia e Meio Ambiente da Polícia Federal, a expectativa é de que o novo centro potencialize os resultados. 

“Neste ano de 2025, com esse plus de integração proporcionado pelo CCPI, a gente deve bater um novo recorde e realmente ter um duro golpe no crime organizado nessa região amazônica”, disse Humberto. 

Ainda de acordo com o delegado federal, em 2024, a PF atingiu a marca de R$ 2,1 bilhões em apreensões de patrimônio dos criminosos ambientais e descapitalização proveniente da destruição de maquinário do garimpo ilegal. 

Andrei Rodrigues, diretor-geral da Polícia Federal, afirmou que até 2026 cerca de 2 mil policiais devem ser contratados a partir de concurso público para integrar o efetivo. 

Proteção da Amazônia Legal

Composta por 59% do território brasileiro, a Amazônia Legal engloba nove estados: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão. Com cerca de 5 milhões de km² de floresta, também se estende a nove países amazônicos: Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela.

Amazônia, o maior bioma brasileiro — Foto: Adriano Gambarini

Pela primeira vez, a Amazônia contará com um sistema de segurança estruturado em ambiente moderno, equipado com tecnologia de ponta e, principalmente, formado por policiais de diferentes agências e países atuando lado a lado em um objetivo comum.

Forças de segurança integradas na CCPI Amazônia — Foto: Camila Seixas/Diário da Capital 

O novo centro de segurança integrada faz parte do Plano AMAS (Amazônia: Segurança e Soberania), criado em 2023, que já conduziu cerca de 200 operações no ano passado e apreendeu mais de U$250 milhões de dólares (equivalente a mais de R$ 1 bi) em ocorrências de crimes contra o meio ambiente. Além disso, maquinários de garimpos ilegais, como dragas, tratores, retroescavadeiras e aeronaves, também foram destruídos. 

Agenda presidencial em Manaus 

Além de inaugurar o novo centro, o presidente Lula também cumpre outras duas agendas em Manaus na tarde de hoje (9): dar início às obras de integração das infovias do Programa Norte Conectado e, em seguida, participar da assinatura do contrato entre o BNDES e a ANATER para implementação do Programa União com Municípios pela Redução do Desmatamento e Incêndios Florestais e o contrato entre o BNDES e o Memorial Chico Mendes para implementação do projeto Sanear Amazônia. 

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