Poucas horas após o anúncio do novo ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo, sobre um pacote fiscal destinado a conter a crise econômica no país, as ruas de Buenos Aires já refletem a preocupação e descontentamento da população.
Entre as medidas mais destacadas do governo de Javier Milei está a desvalorização do peso em mais de 50%, intensificando uma inflação já próxima de 150% no acumulado de 2023. A expectativa é de que produtos essenciais, como pão e gasolina, sofram aumentos significativos nos próximos dias, impactando diretamente a vida cotidiana dos argentinos.
As medidas também incluem cortes nos subsídios, resultando em aumentos nas contas de energia e transporte. A população, apesar de reconhecer a necessidade de medidas para evitar uma piora na situação econômica, expressa preocupação com o impacto direto em seus bolsos.
"As medidas são boas, em teoria, para consertar a economia, mas muitas pessoas vão sofrer por causa disso", declara Agustina Ferreira, uma trabalhadora de 19 anos em Buenos Aires. Outro residente, Facundo Marino, expressa seu apoio ao plano, mas ressalta a necessidade de aumentos salariais para acompanhar as mudanças.
O governo de Milei planeja, além da desvalorização, a suspensão de novos editais de obras públicas, redução de subsídios à energia e transporte, corte em transferências às províncias, suspensão de publicidade governamental por um ano, redução de cargos públicos e uma reestruturação na estrutura do governo.
Carla Beni, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), destaca as incertezas e a insegurança gerada na população com o início do mandato de Milei, alertando para o possível aumento do estocamento de produtos e seu impacto negativo na inflação.
Com 44,7% da população vivendo na pobreza no terceiro trimestre de 2023, de acordo com o Observatório da Dívida Social Argentina, as preocupações se concentram na parcela mais vulnerável da sociedade, levantando questões sobre a eficácia e a justiça social do "Plano Motosserra" anunciado pelo governo.