Nos últimos dias o futebol amazonense ganhou um novo time para alcançar o patamar que hoje está o futebol local, o Sete FC. O astronauta venceu o CDC Manicoré e em seu primeiro ano de série B do Barezão chegou de forma invicta a grande final e carimbou passaporte para a elite do futebol baré.
O time é mais um novato na série de clubes que tem surgido desde o Manaus em 2013. Acontece que desde o acesso do Gavião em 2019, o cenário de novos clubes é cada vez mais comum e acelerado no futebol amazonense. Para vocês terem uma ideia, em 2025 teremos apenas três clubes tradicionais disputando a primeira divisão do futebol local: Nacional (111 anos), São Raimundo (105 anos) e Princesa do Solimões (53 anos). Os demais clubes, todos tem menos de 20 anos.
Quem não acompanha ou convive com o nosso o futebol, passa a questionar e muito mais que isso, passa a criticar a ausência de clubes tradicionais, os apoios que os novatos recebem. Porém, justamente por não acompanharem ou estarem aqui, cometem o erro de não valorizarem ou reconhecerem os trabalhos dos novos clubes.
O que falta para os tradicionais não é mais somente o dinheiro ou time, é gestão. Tenho vários exemplos, porém a prática mais comum presente nos clubes de camisa ainda é a insistência em um conservadorismo que não tira o time daquela situação. Chegam investidores, e os conselheiros ou proprietários, ou até a própria torcida, agem como se o time tradicional tivesse ainda em condições de grandeza no futebol quando, na verdade, o que lhes restou foi a grande moral de sua história. Muitos acabam afastando quem quer ajudar ou fazer acontecer o clube. Tem ainda os que se aproximam por política, por verem o “produto pronto”, vestem a camisa, marcam coletiva, chamam o clube de “clube do seu coração”, mas na hora que o futebol se apresenta e com ele os custos, consequências e resultados, afundam as gestões em decisões puramente moralistas e clubistas, sem nenhuma vontade de pensar a longo prazo por aquela torcida e aquele clube. E eu nem vou tocar no assunto de dívidas, porque aí vai ter gente correndo.
Os novos clubes surgem justamente para recalcular essa rota tão antiga e teimosa de gerir clubes no Amazonas, de inserir as novidades do mercado como as SAF, de reintroduzir modelos que podem potencializar a marca do futebol. Foi assim com o Manaus que 11 anos após sua criação lá em 2013, já tem sua loja e seu CT, espaços simples e mínimos para manter viva a chama do clube e em aproximar o seu torcedor que a cada ano ganha adeptos. O mais recente clube, o SETE FC, começou a série B com um orçamento mínimo, mas dando as condições básicas para você se apresentar no futebol: treino, campo e academia.
Por incrível que pareça, clubes tradicionais já não conseguem alcançar esse mínimo. Não muito distante, houve relato de time que nem água oferecia aos seus atletas. Eu tô falando de ÁGUA, o MÍNIMO DO MÍNIMO. Ou de time que mesmo com seu próprio CT, não honrava o dia certo de pagamento aos seus funcionários e que nem cuidado diário dava ao estado do seu gramado.
O futebol amazonense carece de boas gestões, sim, porque não adiantar ter camisa e não ter condições de lidar com o peso dela.
Eu sei que justifiquei muito o valor dos novatos destacando somente a parte ruim dos tradicionais, o que infelizmente é uma maioria como vocês mesmo podem notar pela quantidade de clubes novos na série A, mas tem o exemplo do São Raimundo. O Tufão há anos reluta na sua história. Tem uma torcida extremamente apaixonada, mas que claro às vezes entra no modo cegueira, quando as coisas não andam. Mas, é uma torcida que carrega o clube. Leva frutas quando necessário, ajuda no dia a dia do time. Convoca seus torcedores e associados e vive o mínimo da organização. É um clube falado, conhecido e reconhecido onde você falar de futebol amazonense, mas, ainda esbarra na questão de gestão. Na última temporada, torcida precisou ir protestar em frente à sede social do clube para pedir por mais visibilidade real ao time, e depois de alinhamentos as coisas começaram a fluir. Mas, não é e nem deveria ser assim.
De qualquer modo, os tradicionais precisam muito aprender com os novatos. E os novatos precisam entender que para serem grandes, precisam mais que história, precisam de títulos. E eu vislumbro daqui a uns anos a gente remontando o cenário do futebol local.
A série A do Campeonato Amazonense de 2025 estará assim:
Nacional – 111 anos de fundação (último título foi em 2015)
São Raimundo – 105 anos de fundação (último título foi em 2006)
Princesa do Solimões – 53 anos de fundação (último título foi em 2013)
Iranduba – 13 anos de fundação (nunca foi campeão no masculino)
Manaus – 11 anos de fundação (atual campeão amazonense)
Amazonas – 5 anos de fundação (último e único título amazonense: 2023)
Manauara – 3 anos de fundação (nunca foi campeão da série A)
RPE Parintins – 3 anos de fundação (nunca foi campeão da série A)
Sete FC – 2 anos de fundação (nunca foi campeão da série A)
Desta relação, o Manaus é o maior campeão dos últimos 10 anos com seis títulos: (2017, 2018, 2019, 2021, 2022 e 2024). Os tradicionais completaram mais de uma década sem um título amazonense.