Saúde

Gravidez na adolescência tem redução de 53% em Manaus, aponta levantamento da Semsa

Redução expressiva entre 2015 e 2024 é atribuída a ações de prevenção e educação; no entanto, capital ainda está entre as que mais registram casos de maternidade precoce no país

Escrito por Redação
13 de outubro de 2025
Foto: Divulgação

O número de casos de gravidez na adolescência em Manaus caiu 53% entre 2015 e 2024. De acordo com dados da Prefeitura de Manaus, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), o índice é o dobro da redução identificada entre o total de nascimentos em todas as faixas etárias no mesmo período, que caiu 27%. A diminuição, considerada expressiva, estaria relacionada a estratégias locais de prevenção e educação voltadas à saúde sexual e reprodutiva de adolescentes.

De acordo a pesquisa, em 2015, houve o registro de 9.238 nascidos vivos de mães menores de 20 anos em Manaus. Esse grupo se enquadra na faixa etária definida como adolescência, que compreende jovens de 10 a 19 anos, conforme o Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Já os números mais recentes mostram que, dez anos depois, entre 1º de janeiro e 6 de outubro de 2025, foram registrados 3.242 nascidos vivos de mães com menos de 20 anos. Em 2024, o número ficou em 4.344, representando uma redução de 25,4%. 

“A redução tem sido contínua a cada ano, indicando melhorias em educação sexual e o acesso aos métodos contraceptivos. Foram 5.167 nascimentos de mães com menos de 20 anos, em 2022, e 4.961, em 2023, caindo para 4.344 no ano passado”, aponta a chefe do Núcleo de Atenção à Saúde da Criança e do Adolescente da Semsa, Janaína de Sá Terra. 

Riscos à saúde 

Entre os riscos à saúde associados à gravidez na adolescência estão: a eclâmpsia ou pré-eclâmpsia, que causam alterações perigosas na pressão arterial; além do maior risco de anemia, já que a adolescente ainda está em fase de crescimento e compete com o feto pelos nutrientes. Para a criança, os riscos incluem: parto prematuro, aborto, baixo peso ao nascer e problemas no desenvolvimento e crescimento. 

“A gestante adolescente também tem mais chances de precisar de um parto cesáreo, devido a sua pelve ainda estar em desenvolvimento. É uma cirurgia que muitas vezes salva vidas, mas ainda é um procedimento cirúrgico que traz alguns riscos como em todas as cirurgias. Têm a anestesia, a incisão cirúrgica e a recuperação depois do parto exige muito mais cuidados do que o parto natural”, destaca Janaína.

Foto: Divulgação/Semsa 

Questão social 

Além das questões de saúde, a gravidez na adolescência apresenta consequências nos aspectos sociais, o que inclui o abandono escolar, dificuldade na inserção no mercado de trabalho, isolamento social e vulnerabilidade social.

“A adolescente provavelmente terá que abandonar a escola por um tempo. Se voltar para concluir os estudos, retorna com atraso, o que tem como consequência o subemprego, com baixos salários, e reprodução do ciclo de pobreza e vulnerabilidade. Os pais nem sempre aceitam a gravidez da filha e há pesquisas mostrando que 70% das adolescentes são abandonadas totalmente pelo pai da criança”, conta Janaína.

Prevenção 

As estratégias de prevenção executadas pela Semsa envolvem as ações do Programa Saúde na Escola (PSE), que tem como um dos eixos de trabalho a Saúde Sexual e Reprodutiva dos Adolescentes. No ano passado, a Semsa também lançou um manual para orientar profissionais de saúde na consulta do adolescente e uma cartilha direcionada aos adolescentes, orientando na prevenção da gravidez não intencional.

Ainda em 2024, a Semsa participou da promoção da “Expo do Cuidado”, em uma exposição interativa com foco na prevenção da gravidez não intencional na adolescência, para estudantes do ensino fundamental 2, que é uma iniciativa do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).

“São estratégias que buscam ir até os adolescentes, com atividades educativas e rodas de conversas, tratando dos seus direitos, da prevenção da gravidez, sobre como identificar e denunciar relacionamentos abusivos, e sobre as escolhas para o futuro”, informa Janaína.

Atendimento e acesso

Os adolescentes têm o direito de se consultar com o profissional de saúde sem o acompanhamento dos pais ou responsáveis, o que é assegurado no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Segundo Janaína Terra, essa garantia permite que o adolescente busque unidades de saúde de forma espontânea e facilita no acesso aos serviços.

“O mais importante é que os adolescentes não podem voltar da recepção da unidade de saúde apenas porque chegaram sozinhos para o atendimento. Eles devem ser acolhidos, a demanda escutada e encaminhada de acordo com a necessidade. É uma estratégia importante para estimular a autonomia do adolescente e o profissional pode avaliar a sua capacidade de entendimento no processo de cuidado com a saúde”, explica Janaína Terra.

O sigilo na consulta é garantido, mas Janaína enfatiza que, em algumas situações, é necessário comunicar os pais ou responsáveis, como em casos de gravidez, risco de suicídio ou qualquer situação que coloque a vida do adolescente ou de outra pessoa em risco.

“Nesses casos, o profissional de saúde deve conversar com o adolescente e explicar a necessidade de comunicar aos responsáveis. É importante ressaltar que, segundo o código penal brasileiro, relação sexual com adolescente com menos de 14 anos é violência e deve ser sempre notificada, mesmo quando a relação é consentida”, aponta.

Nas unidades de saúde, a Semsa também orienta para a utilização de métodos contraceptivos e disponibiliza anticoncepcionais injetáveis e comprimidos, preservativos e oferta a inserção do Dispositivo Intrauterino (DIU).

Dados estaduais apontam cenário ainda preocupante 

Apesar da redução local, dados do Ministério da Saúde em parceria com o Instituto AzMina, dentro do projeto “Meninas Mães”, mostram que o Amazonas figura entre os estados brasileiros com maior número de casos de gravidez precoce

Conforme a pesquisa, em números absolutos, Manaus aparece como a terceira cidade do país com o maior número de nascimentos de filhos de meninas entre 10 e 14 anos, na última década (2014 a 2023), com 3.602 registros, ficando atrás apenas de São Paulo (5.264) e Rio de Janeiro (4.710).

Outro desafio significativo é a ausência de hospitais no Amazonas que realizem aborto legal, casos previstos por lei, como gravidez decorrente de estupro. As unidades mais próximas ficam em estados vizinhos, como Roraima e Pará. 

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