‘Tron: Ares’: novo capítulo traz espetáculo visual e reflexão sobre fronteira entre mundo físico e ciberespaço

A nova incursão da Disney no ciberespaço mistura nostalgia, inquietação contemporânea e traz de volta um universo que há mais de quatro décadas desperta fascínio por sua mistura de tecnologia futurista, ritmo e emoção. Em Manaus, a pré-estreia de ‘Tron: Ares’ aconteceu nesta quarta-feira (8/10), na sala X Plus do UCI Manauara, que oferece tela gigante, projeção digital 4K e um sistema de som imersivo Dolby Atmos. Essa é a primeira cabine de imprensa realizada pela Disney na capital amazonense. 

Dirigido por Joachim Rønning, desta vez, o enredo se volta para Julian Dillinger (Evan Peters), herdeiro de um império tecnológico que busca trazer o grid, como é conhecido o mundo digital da franquia, para a realidade. O plano ambicioso conta com Ares (Jared Leto), o primeiro programa capaz de cruzar o limite entre o mundo físico e o virtual fazendo uma metáfora sobre a relação humana com a tecnologia. Ele é criado para ser um soldado de força, com potencial militar. A disputa entre a corporação de Dillinger e a ENCOM, antes liderada por Kevin Flynn (Jeff Bridges) e agora comandada por Eve Kim (Greta Lee), reflete o embate ético entre controle e progresso humano.

Em meio a corredores de luz e identidades digitais, Ares é transportado para a realidade e percebe que, fora do grid, há dilemas que nenhum código consegue decifrar. 

Os efeitos neon, o design geométrico e a pulsação constante da trilha assinada por Trent Reznor e Atticus Ross (Nine Inch Nails) criam uma experiência sensorial quase sinestésica. A escolha marca um novo tom para a série, para contrastar com a versão anterior que levou a assinatura do Daft Punk. Visualmente, o filme é um espetáculo digno de ser assistido em uma sala de cinema, especialmente na XPlus. 

Atenção: spoiler a seguir

O retorno de Jeff Bridges como Kevin Flynn resgata o elo emocional com o passado e oferece alguns dos momentos mais simbólicos do filme. Em seu encontro com Ares, o discurso sobre “criar vida” e “ser responsável por ela” soa como eco de uma humanidade que insiste em sobreviver dentro do código. Greta Lee e Evan Peters também entregam boas atuações, mesmo que cerceadas por uma trama que traz um destaque maior à forma comparada ao conteúdo.

Jared Leto surge como a escolha perfeita para o papel de Ares: sua atuação encontra o equilíbrio entre a solidez de uma inteligência artificial e a descoberta delicada do sentir, como se, pouco a pouco, a razão fosse aprendendo o que é ter alma. Por mais que o roteiro não se aprofunde filosoficamente nessa questão, a base que entende-se da trama para reacender o debate na realidade é justamente essa linha tênue. Logo, cumpre-se o esperado para o conflito existencial proposto pelo roteiro. 

Há também uma nostalgia doce que permeia toda a experiência. Entretanto, Tron: Ares também desperta ambivalência: o desejo pelo novo e o apego ao antigo. Ao mesmo tempo em que avança em efeitos e ritmo, o filme resgata a era 2D dos anos 80 e os elementos que marcaram uma geração que cresceu entre fliperamas e videogames clássicos. Quando aqueles gráficos simples surgiram pela primeira vez, já pareciam vislumbres de uma era futurista — e é justamente esse sentimento que o novo Tron faz reviver.

No fim, o novo capítulo de Tron é um prelúdio sobre fronteiras entre o digital e o orgânico, o avanço tecnológico da IA, com um vislumbre de debate sobre a criação. Pode não ser o renascimento narrativo que os fãs esperavam, devido a mudança da narrativa tradicional da franquia, mas é, sem dúvida, um espetáculo audiovisual que confirma o poder do cinema em nos fazer ver (e questionar) a própria luz que criamos.

Tron: Ares estreia nesta quinta-feira, 9 de outubro, nos cinemas de todo o Brasil. 

Confira o trailer legendado: