Meio Ambiente

Pesquisa encontra mercúrio em peixes do Rio Madeira e alerta para riscos à saúde ribeirinha no AM

A pesquisa foi realizada entre 9 e 20 de agosto, utilizando uma estrutura móvel que permitiu o monitoramento em tempo real de parâmetros ambientais e o envio de amostras de mercúrio para análise

Escrito por Redação
21 de agosto de 2025
Fotos: Divulgação/UEA

O Grupo de Pesquisa Química Aplicada à Tecnologia da UEA (GP-QAT/UEA) realizou, entre 9 e 20 de agosto, a terceira expedição do Programa de Monitoramento da Água, Ar e Solos do Estado do Amazonas (ProQAS/AM), para analisar a qualidade da água, dos sedimentos e dos peixes do Rio Madeira, um dos principais afluentes do Amazonas. O estudo abrangeu 164 parâmetros ambientais definidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), permitindo avaliar de forma detalhada a saúde ecológica da região. 

Durante a expedição, batizada de Iriru 3, os pesquisadores percorreram mais de 1.780 quilômetros, visitando municípios como Borba, Manicoré, Humaitá, Nova Olinda do Norte, Urucurituba e Novo Aripuanã, regiões que dependem fortemente do rio para alimentação, transporte e atividades econômicas, incluindo pesca e agricultura familiar. 

Ao longo do trajeto, foram coletadas amostras em 54 pontos estratégicos, abrangendo áreas próximas a comunidades ribeirinhas, mercados e locais de pesca. Entre os peixes analisados estão espécies de grande consumo local, que constituem a base da dieta das comunidades ribeirinhas, como:

  • Jaraqui
  • Pacu
  • Matrinxã
  • Traíra
  • Sardinha

Os resultados preliminares indicam a presença de traços de mercúrio e metilmercúrio, substâncias tóxicas associadas principalmente à atividade de garimpo ilegal, o que levanta alertas sobre possíveis impactos à saúde humana e à preservação dos ecossistemas da região.

Foto: Divulgação/UEA 

Impactos do garimpo ilegal

A contaminação do rio Madeira está diretamente relacionada à atividade de garimpo ilegal, que continua movimentando a economia local, mas provoca graves impactos ambientais.

No processo de extração do ouro, é utilizado mercúrio, que contamina a água, os sedimentos e os peixes. Além disso, a operação das dragas e balsas de sucção aumenta a turbidez da água, acelera o assoreamento do rio e agrava a degradação dos ecossistemas aquáticos.

A engenheira ambiental e doutoranda do Programa de Pós Graduação em Clima e Ambiente da UEA (PPGCLIAMB), Silvana Silva, responsável pela análise de metais, destaca a relevância de compreender a distribuição dos elementos químicos no ambiente. 

“O monitoramento contínuo permite identificar padrões de contaminação ao longo do rio, oferecendo subsídios para que ações preventivas e educativas sejam planejadas junto às comunidades. É um passo fundamental para minimizar impactos na saúde humana e na preservação dos ecossistemas locais”, ressaltou. 

Riscos à população ribeirinha

  • Mercúrio nos peixes: afeta a saúde, especialmente de crianças e gestantes;
  • Água contaminada: o uso de mercúrio no garimpo polui o rio;
  • Assoreamento e degradação: prejudica a pesca, transporte e biodiversidade.

Resultados e perspectivas

As três campanhas do GP-QAT na bacia do Madeira revelaram alterações químicas, físicas e biológicas nos ecossistemas aquáticos e permitiram mapear os trechos mais vulneráveis à contaminação. Os dados fornecem subsídios para medidas de conservação, manejo sustentável dos recursos hídricos e alternativas econômicas para comunidades ribeirinhas, como biotecnologia e bioeconomia.

O Dr. Adriano Nobre, chefe da expedição, reforça que o estudo oferece dados estratégicos para políticas públicas e conscientização das comunidades locais, promovendo o uso sustentável dos recursos naturais. O GP-QAT já planeja quatro novas campanhas em 2026, fortalecendo a ciência e a preservação ambiental na Amazônia.

“Nosso trabalho permite registrar alterações ambientais de forma detalhada, acompanhar impactos progressivos e gerar dados que orientem o planejamento de políticas públicas e programas de preservação, contribuindo para o uso sustentável dos recursos naturais e para a conscientização das comunidades locais”, disse Adriano.

Foto: Divulgação/UEA 

Laboratório flutuante 

O barco da expedição funciona como um laboratório flutuante, permitindo medir no rio parâmetros físico-químicos e microbiológicos, como oxigênio dissolvido, pH, turbidez, nitrogênio, fósforo e metais em suspensão.

Enquanto a maior parte das análises será feita na Escola Superior de Tecnologia da UEA, amostras de mercúrio e metilmercúrio serão enviadas para a Harvard John A. Paulson School of Engineering and Applied Sciences, nos EUA.

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