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Dia Nacional dos Direitos Humanos expõe fragilidade da proteção social no Brasil, alerta especialista

Dados do Disque 100 revelam que, apenas em 2024, o país já registrou 657.200 denúncias de violações de direitos humanos, um aumento de 22,6% em relação ao ano anterior.

Escrito por Clara Gentil
12 de agosto de 2025
Foto Divulgação

Celebrado nesta terça-feira (12/8), o Dia Nacional dos Direitos Humanos marca os 42 anos do assassinato da sindicalista Margarida Maria Alves e expõe, ainda hoje, a persistência da violência e das desigualdades no Brasil. Dados do Disque 100 revelam que, apenas em 2024, o país já registrou 657.200 denúncias de violações de direitos humanos, um aumento de 22,6% em relação ao ano anterior. 

Para a mestranda em Segurança Pública, Cidadania e Direitos Humanos pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA), professora universitária e assessora executiva Andrezza Christina Alencar de Lima, a situação revela uma urgência civilizatória. 

“A educação para a paz precisa ser compreendida não apenas como uma ferramenta pedagógica, mas como um pilar essencial na construção de uma sociedade verdadeiramente justa, pacífica e harmoniosa”, afirmou em entrevista ao Diário da Capital. 

As estatísticas reforçam essa necessidade. Segundo o governo federal, as mulheres representaram 372.300 das vítimas em 2024, enquanto crianças e adolescentes somaram 289.400 casos. Para a especialista, o rompimento de ciclos de violência começa na infância.

“Precisamos promover desde cedo valores como igualdade de gênero, respeito à diversidade e formas não violentas de resolução de conflitos. A escola e a comunidade têm papel central nesse processo”, disse. 

Amazônia: direitos humanos e ambientais entrelaçados

Na Amazônia, a intersecção entre violações de direitos humanos e destruição ambiental forma um dos panoramas mais preocupantes do país. De acordo com a especialista, os conflitos por terra e recursos naturais resultaram em pelo menos 11 mortes no primeiro semestre de 2023. Ela alerta que esse número representa apenas a ponta do iceberg de uma violência sistemática que tem como principais alvos povos indígenas, comunidades tradicionais, defensores ambientais e jornalistas. 

“O Brasil é hoje o segundo país mais perigoso do mundo para defensores ambientais. Desde 2014, 17 dos 20 defensores assassinados no país foram mortos na Amazônia. Isso mostra uma tentativa de silenciar quem luta por justiça social e ambiental”, alertou. 

A professora defende a educação intercultural como uma resposta urgente para esse cenário. “É necessário valorizar os conhecimentos tradicionais e ensinar, desde as escolas, a importância da biodiversidade, os impactos das mudanças climáticas e a ligação entre a preservação ambiental e os direitos humanos”.

Tecnologia e diversidade 

Andrezza Christina também chama atenção para o aumento da violência contra a população LGBTI+. Em 2024, houve um crescimento de 34% nas denúncias, totalizando 8.142 casos. Para ela, o combate ao preconceito deve ser incorporado ao processo educativo de maneira permanente. “A diversidade deve ser vista como riqueza. Promover o respeito à pluralidade sexual, étnica, religiosa e cultural é essencial para criar ambientes seguros e inclusivos.”As tecnologias e redes sociais, por sua vez, representam tanto desafios quanto oportunidades. “Elas podem amplificar discursos de ódio, mas também podem ser ferramentas poderosas de conexão e disseminação da cultura de paz. Por isso, a educação digital para a paz é crucial, principalmente para os jovens”, explicou.

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