No próximo domingo (20), estreia no Teatro Amazonas o documentário “PIRARUCU, o Respiro da Amazônia”, que fala sobre como o manejo do peixe se tornou um dos maiores instrumentos de proteção da região, salvando a espécie da extinção.
O filme é dirigido por Carolina Fernandes, nascida em São Paulo, mas que vive no Amazonas há 15 anos. Ela já trabalhou em produções da BBC, National Geographic Channels, Smithsonian Channel, HBO, Netflix, Animal Planet, Arte France, além de ser diretora da série “Mysteries of the Abandoned”, do Discovery Science.
Em entrevista ao Diário da Capital, Carolina falou sobre o processo de produção do filme e as expectativas para o lançamento.
DC: Como começou esse projeto? De onde surgiu a ideia?
CAROLINA: Desde que fundei a Banksia Films em 2009 foquei em projetos audiovisuais com temática ambiental e em projetos de conservação, então é antiga a minha relação com projetos de base comunitária. Em 2014 eu já tinha filmado o manejo de pirarucu no rio Purus e percebi a potência desse tipo de projeto para a melhoria na qualidade de vida da população local aliado à conservação da floresta. Em 2022 tivemos a oportunidade de produzir o filme “PIRARUCU, o Respiro da Amazônia” em parceria com o Instituto Juruá e o coletivo Pirarucu. O filme busca, de forma poética, evidenciar os impactos positivos na vida dos manejadores de pirarucu e suas comunidades ribeirinhas aliando à conservação do ambiente.
DC: Quanto tempo durou a produção? E como foi?
CAROLINA: A logística para as filmagens foi bastante complexa e realizadas em várias etapas. Filmamos o manejo do pirarucu no médio Juruá por 10 dias. Após isso, tivemos filmagens de entrevistas com os parceiros da rede pirarucu em Manaus e por fim, viajamos para Mamirauá por cinco dias, onde pudemos fazer entrevistas com os experientes pescadores de pirarucu da região e que iniciaram e implementaram o manejo dessa espécie na Amazônia.
DC: Você já tinha contato com as comunidades ribeirinhas? Como foi essa convivência durante as filmagens?
CAROLINA: Nossas equipes estão muita habituadas a filmar em ambientes florestais. Nossa missão enquanto produtora audiovisual é contar histórias que valorizem e que deem visibilidade a pessoas invisibilizadas da Amazônia. Nossa trajetória de 15 anos produzindo filmes com temática ambiental na Amazônia é sempre a de retratar lugares desconhecidos, comunidades indígenas e ribeirinhas e de que forma elas vivem em harmonia com a natureza.

Filmar no médio Juruá foi uma verdadeira honra para toda a equipe Banksia Films. As comunidades são extremamente acolhedoras e o dia a dia é sempre de muito aprendizado e partilha. Ter a chance de estar nessas comunidades nos devolve a sensibilidade de valorizar os pequenos grandes serviços ambientais que a floresta nos oferece diariamente. É muito encantador poder testemunhar a força do povo da floresta nas iniciativas de geração de renda de forma sustentável. Eles são um grande exemplo para o mundo.
DC: Como você está se sentindo em ver seu filme estreando no Teatro Amazonas?
CAROLINA: Ter esse filme estreando no Teatro Amazonas tem um sentido todo especial, porque eu felizmente estarei acompanhada dos manejadores de pirarucu do médio Juruá, pessoas que nunca foram no teatro, e para eles que no passado trabalhavam para grandes senhores da borracha, me parece fantástico que agora eles serão os protagonistas dessa noite. O Teatro é controverso, né? Ao mesmo tempo que simboliza um templo de orgulho, é inevitável não refletir nas bases sociais e econômicas da época que ele foi construído.
DC: O que você espera que o público veja e tire da sua narrativa?
CAROLINA: Espero que em primeiro lugar o público se deleite com as imagens em super slown motion [câmera lenta] de pirarucus boiando no rio. É mágico poder ver o comportamento deles em detalhes. O filme tem um papel social importante porque revela para o mundo um sistema de geração de renda aliado à conservação. Acredito que o filme possa servir de inspiração para outras comunidades que ainda não protegem os seus lagos, que elas vejam que ainda é tempo de proteger e manter novas práticas de geração de renda conservando o ambiente e em muitos casos recuperando as populações pesqueiras e todo o seu ecossistema ao redor.
DC: Como você vê a produção audiovisual na região amazônica? O que a gente precisa? O que a gente não precisa?
CAROLINA: Temos grandes profissionais do audiovisual na Amazônia. É notório a visibilidade crescente dos filmes produzidos no Norte em festivais nacionais e internacionais. Acredito que o fortalecimento da nossa cadeia audiovisual está pautada na educação e capacitação. Temos urgência em criar cursos de formação básica e de especialização nos estados do Norte, essa capacitação é que vai nos fortalecer e gerar novas demandas para produções locais autorais. Além, claro, da necessidade de mais editais públicos voltados para o audiovisual.
DC: Qual legado você quer deixar como diretora?
CAROLINA: Encaro o audiovisual como uma ferramenta para a conservação da Amazônia. Desejo que meus filmes sensibilizem o público a adotar novas práticas ou a apurar o olhar. Meu legado será contribuir para dar visibilidade às práticas sustentáveis na Amazônia e fazer com que os povos da floresta sejam valorizados com verdade e poesia estética.

PREMIÉRE
Com entrada gratuita, a estreia ocorrerá às 19h, com abertura dos portões a partir das 18h30. O Teatro Amazonas está localizado no Largo de São Sebastião, no Centro de Manaus.