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Na Ponta Negra, o rio ficou cinza, assim como a margem do outro lado, e a ponte Jornalista Phelippe Daou sumiu

Escrito por
Letícia Misna
September 28, 2023
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No dia 27 de setembro é celebrado o Dia Mundial do Turismo. Neste mesmo dia, enquanto o governo celebrava a data e servidores eram homenageados na Assembleia Legislativa, Manaus e seus pontos turísticos eram encobertos por uma densa fumaça decorrente de queimadas na região, chegando a levar diversas pessoas ao hospital com problemas respiratórios.

CIDADE CINZA

Na noite de quarta-feira (27), o Teatro Amazonas, gigante monumento rosa no Centro Histórico da cidade, ficou cinza. Pessoas que estavam no local, que inclusive realizava um espetáculo no momento, relataram que tiveram dificuldades de respirar, e o forte odor de queimado pôde ser sentido até mesmo dentro do monumento.

Fernanda Silvestrim, que estava no Largo de São Sebastião, compartilhou sua experiência. “Deu muito medo. Eu e minha amiga chegamos lá no fim da tarde e estava tudo aparentemente normal. Ficamos umas 2h dentro de uma sorveteria e quando a gente saiu, começou a tossir imediatamente… Não dava pra respirar direito… Um cheiro horrível de queimado e pouca visibilidade. Conversei com outras pessoas e todas falaram o mesmo: a fumaça veio no início da noite e tomou conta da cidade muito rápido”.

Na Ponta Negra, o rio ficou encoberto. A fumaça impediu a visão das árvores do outro lado da margem. A ponte Jornalista Phelippe Daou sumiu.

Nem mesmo a área de mata do Tarumã conseguiu dar conta, com o cheiro de verde sendo substituído por cheiro de fogo.

CAMINHO CINZA

O Aeroporto Internacional Eduardo Gomes informou que os voos e demais atividades não têm sido afetados pela situação, ao contrário dos transportes terrestres, como relata o motorista de ônibus rodoviário Vinicius Macêdo, que trafega pela BR-319, nos trajetos Manaus-Lábrea e Manaus-Porto Velho.

“Nesses últimos dias tem sido muito difícil devido às queimadas, muita fumaça na estrada. Tem vezes que a gente tem que diminuir bastante a velocidade do ônibus, quase parando, pra não acontecer um acidente. Muito perigoso. Muita fumaça. Tanto de dia, quanto de noite. A visibilidade tem vezes que chega a zero”, ressalta.

Para Vinicius, este tem sido muito pior que os anos anteriores. “A fumaça entra dentro do ônibus e a gente tem muita dificuldade pra respirar. Já chegou o caso de uma idosa passar mal”.

Para os navegantes dos rios, a situação não é muito diferente. “Tem atrapalhado muito a nossa navegação, Deus o livre. O dia tá difícil e a noite nem se fala. Complicado à noite, complicado. Fumaceiro, o rio seco. Aí já não é fácil com o rio seco, ainda mais essa fumaça”, diz Chagas Amâncio, comandante do barco Rei Davi, que navega pelas águas do Amazonas transportando pessoas e cargas entre Manaus e o interior.

Para ele, diminuir a velocidade da embarcação nem ao menos é uma opção, pois nesses casos o melhor método é parar. “Quando fecha mesmo, ninguém consegue enxergar nem um lado do rio pro outro, né?”.

O MELHOR LUGAR PARA PRATICAR ECOTURISMO NO MUNDO?

Ainda na quarta, a Empresa Estadual de Turismo (Amazonastur) foi homenageada na Assembleia Legislativa do Estado (Aleam), pelos serviços prestados ao setor no estado. No primeiro semestre de 2023, a atividade injetou mais de R$ 420 milhões na economia amazonense, um crescimento de 24% em relação ao mesmo período de 2022, segundo dados da pasta.

Em suas redes sociais, o governador do Amazonas, Wilson Lima, ressaltou que o estado é o melhor para praticar ecoturismo no mundo, mas não se manifestou sobre as queimadas.

“TURISMO É MELHOR NO AMAZONAS! Somos, segundo a revista Forbes, o melhor lugar pra praticar ecoturismo no mundo. Essa importante atividade econômica é fonte de renda para milhares de pessoas em nosso estado e nosso governo vai continuar investindo para fortalecer ainda mais esse segmento”.

O prefeito de Manaus, David Almeida, que esta semana assinou a ordem de serviço para a obra do Parque Encontro das Águas (que promete ter a mesma importância do Teatro Amazonas), também não deu nenhuma palavra sobre a situação.

Entramos em contato com a Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult), questionando como o turismo na cidade pretende lidar com a fumaça e a saúde dos visitantes, mas até o fechamento desta matéria não obtivemos resposta. Já a Amazonastur informou que logo enviará um parecer a respeito.

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