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Mês da mulher: Nós que sobrevivemos no futebol

Nós que sobrevivemos ao futebol, precisamos lidar com a intimidação diária de um comentário seu ou matéria sua.

Escrito por
Larissa Balieiro
March 07, 2025
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Foto: Larissa Balieiro

Neste sábado (8) comemoramos o Dia Internacional da Mulher e nós que sobrevivemos no futebol temos muitas pautas reflexivas sobre o assunto. A começo de conversa que, pouca gente vai entender os nossos lamentos e vão logo para a estratégia prática de desistir ou sair deste ambiente. Acontece que, não é bem por aqui. Pouca gente fala sobre querermos ficar.

Neste mês da mulher, vou falar muito sobre um ambiente que precisamos conviver dentro do futebol e que, de longe, é um dos mais hostis. Quando eu digo que mulher sobrevive no futebol, vai muito além das ameaças de torcedor ou da falta de vontade que pega teu estado mental a te fazer duvidar de você mesma. O ambiente do futebol faz com que você tenha ainda mais certeza que ser mulher é extremamente perigoso. Pegam uma fala nossa ou pior, condenam a gente internamente antes mesmo da nossa chegada. Detonam nosso trabalho como se quiséssemos aparecer “porque mulher adora fazer isso”. Quando falamos o que não querem ouvir, vão com tudo para acabar com nossa credibilidade.

E vou além, isso não está relacionado somente aos homens de torcida e arquibancada, ou de grupos de WhatsApp. Estou falando até mesmo de colegas da imprensa, pessoas que convivem com você, pessoas que sabem o quanto é extremamente difícil cobrir futebol amazonense, que é o meu caso. Nós que sobrevivemos no futebol temos dias ruins muito mais relacionados a esse ambiente péssimo que deixam pra gente.

Vou detalhar pra vocês vários exemplos e de pura experiência e que inclusive me fizeram querer fazer esses dias de colunas sobre mulheres porque é uma forma de desabafo mesmo e que muito provavelmente muitas mulheres vão se reconhecer no contexto.

Nós que sobrevivemos no futebol precisamos lidar com o falso moralismo, aquele em que o clube ou o dirigente levanta pauta sobre mulher, mas não consegue respeitar uma. Tive a situação de um dirigente tramar para sujar meu nome com sua torcida e usou um homem, jornalista, para isso. O mais hipócrita dos dois é que um é casado e metido a pegador e o outro tem uma filha que não assumiu.

Eu sei que são questões pessoais e até por isso eu nunca nem bati de frente, mas pra vocês terem noção do quanto o ser humano consegue ser sujo sozinho. Eu apenas me afastei dos dois. Mas, graças a muitas questões e ações que fizeram por não concordarem com um posicionamento meu, fui hostilizada e xingada dentro do estádio, recebi ameaças. Jamais perdoei o ato dos dois. O jornalista em questão, que já ajudei com contatos e que eu NUNCA fiz nada para que pudesse ter uma justificativa plausível para tamanha baixaria. Hoje em dia, o referido gosta de detonar meu trabalho no seu próprio programa em um espaço que ofereceram pra eu ocupar muito antes dele. Debocha dos meus projetos e pior, senta com pessoas para falar meu nome de forma horrível.

O que não consigo entender é: quando virei inimiga?

Tem o caso do outro jornalista que também usou o programa independente dele para falar do meu trabalho e das pessoas próximas a mim. Um cara que citei no meu livro como forma de agradecimento. Um cara que consegue deixar o ambiente péssimo para o convívio. E todos esses relatos são reais e tenho vídeos. Cheguei a enviar para meu advogado para verificar se podia ser feito algo, mas como sempre a covardia do machista e de alguns homens deixa tudo subjetivo. Se tivessem coragem de bater de frente, perceberiam que estão travando uma briga de graça e muitas vezes por se incomodarem com uma mulher buscando seu espaço.

Nós que sobrevivemos ao futebol, precisamos lidar com a intimidação diária de um comentário seu ou matéria sua. E muitas vezes eu falo a mesma informação que outros colegas, mas vão atrás de quem? Vão detonar quem? Tem a história de um cidadão que eu também ajudei muito quando adoeceu, que quando precisou ajudar um atleta eu fiz campanha na época da Covid. O mesmo cara, por PURA VAIDADE E EGO, passou a queimar meu nome internamente e numa roda de homens para que eu não tivesse mais assuntos e notícias privilegiadas. Tudo porque eu detonei a contratação de um atleta que responde na justiça por violência doméstica. O “homem” ficou mais ofendido pela minha matéria do que pelo ato do cara. O lance de “homens se protegem”. Aí sabe o que aconteceu? O cara que sempre me deu notícias privilegiadas e de primeira mão, me bloqueou e até hoje a relação cordial que tínhamos, não se restabeleceu por causa da “queridinha”, como eu era chamada internamente.

Porém, fico com aquela frase: “se o meu posicionamento fez você se afastar, fique aí mesmo”. Jamais vou ficar do lado oposto de uma mulher e meus princípios são meus. Podem contestar, colocar mulher, contra sociedade ou contra qualquer pauta que vocês fingem advogar gratuitamente. Nós que sobrevivemos no futebol, sabemos que não é uma luta fácil. Ela é tão grande que às vezes tentam te sujar no percurso. Mas, para o delírio deles, a gente continua e vamos continuar ainda mais!!

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