Apesar de o governador Wilson Lima (União Brasil) afirmar que há um esforço para combater o desmatamento e as queimadas no Amazonas, entre abril e agosto deste ano apenas três prisões foram realizadas.
Questionado pelo Diário da Capital sobre o crítico cenário, Lima salienta que a dificuldade de coibir as ações dos criminosos está na vastidão territorial do Estado, na complexidade logística das operações e na natureza intencional dos crimes ambientais. Enquanto isso, somente no mês de agosto, já foram detectados 3.968 focos de calor no Amazonas.
Lima argumenta que a maioria dos incêndios ocorre em áreas rurais, como a BR-319, e que a dificuldade de acesso impede uma resposta eficaz. Ele também afirmou que criminosos planejam as ações com antecedência. Diferente do estado, que apesar de ser acionado por um sistema de monitoramento, não possui a logística necessária.
“A gente não consegue chegar na BR-319. O criminoso consegue porque ele se planeja 15, 20 dias antes, chega lá, taca fogo, quando aparece o alerta (pra gente) todo mundo já fugiu. E isso dificulta muito o acesso que nós não temos e só conseguimos chegar lá de avião. Mesmo de avião você não tem onde pousar. Temos usado os nossos drones, isso tem ajudado a fazer algumas prisões. Mas há de fato uma dificuldade muito grande em razão da logística”, disse Lima à reportagem, durante coletiva de imprensa realizada nesta quarta-feira (14).
A realidade dos números, no entanto, expõe uma séria falta de efetividade. Dentre as prisões, uma prisão foi feita pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) e duas pela Polícia Militar, totalizando três prisões. No entanto, há um contraste marcante entre a quantidade de infrações, isso porque foram realizados 25 termos de apreensão de equipamentos e veículos, 282 embargos, além de multas que somam R$ 80 milhões.
“Tem se intensificado porque nós não conseguimos, efetivamente, chegar no ato do delito, mas com os recursos utilizados nós conseguimos chegar na realização dessas três prisões (…) O tamanho do Estado é gigantesco. A gente tenta demonstrar nessas telas, mas você não tem ideia da dimensão territorial que é uma operação nossa. É muito difícil. Porque as queimadas, elas são intencionais. Então, quando a gente consegue uma prisão, significa que nós pegamos em flagrante”, respondeu Juliano Valente, diretor-presidente do Ipaam.
Mas, de acordo com o comandante-geral da PMAM, coronel Klinger Paiva, uma das principais dificuldades está exatamente na capacidade de agir em flagrante.
“Nós temos uma dificuldade enorme em chegar no momento de flagrante, até pela logística que está sendo apresentada, para que seja feito esse combate. Eles ateiam o fogo e somem. Quando a gente chega no alarme, o fogo já tá se alastrando e é muito rápido. A Polícia Militar, ela precisa prender em flagrante, e essas prisões foram feitas, inclusive hoje”, afirmou Paiva.
Indagado quanto a fumaça que se espalha no Estado, o governador disse ainda que é necessário reconhecer a presença das mudanças climáticas. “Sobre a questão da fumaça, a gente não tem que se acostumar com a fumaça porque ela é danosa ao nosso organismo. Mas, a gente tem que entender, que desde o ano passado, a gente tem que conviver com as mudanças climáticas que já é uma realidade”, disse Lima ao Diário.
MEDIDAS DE ENFRENTAMENTO À CRISE
Durante coletiva, o governador Wilson Lima anunciou medidas para enfrentar a crise. Segundo ele, neste momento há “aproximadamente 410 homens na região metropolitana, com a maioria no Sul do Estado do Amazonas”. Lima ainda destacou que o Governo Federal, através do Ibama e do PrevFogo, está atuando com 100 homens e irá implementar mais 20 homens. Haverá ainda a contratação de 153 agentes para atuação na região sul do estado. Desses, 85 serão contratados imediatamente para atuar na próxima semana.
Wilson Lima também anunciou um aumento nas diárias dos servidores em campo, sendo esses da Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, Ipaam, Polícia Militar e Secretaria de Meio Ambiente. Os reajustes variam entre R$ 120 e R$ 282 de acordo com as funções, representando um aumento médio de 55%. Além disso, ele autorizou a convocação de 200 alunos bombeiros, com orçamento já aprovado para o fardamento. Segundo ele, em 15 dias, esses novos bombeiros serão apresentados.
A estratégia do governo é que, no período mais intenso da estiagem e das queimadas, mais de mil homens estejam atuando nos municípios afetados. No entanto, o governador enfatizou que “só os homens em campo não são suficientes para combater a quantidade de focos de calor”, e que serão necessários aviões, helicópteros, drones e outros equipamentos para enfrentar a crise.
“Algo em torno de 80% dos incêndios que estão acontecendo são em assentamentos e áreas indígenas que são de responsabilidade do Governo Federal, em nenhum momento o Estado vai se eximir dessa responsabilidade de combater esses incêndios, mas sozinhos não conseguimos (…) Nesse mesmo período do ano passado nós não tínhamos um registro tão grande de focos de calor”, disse Lima.
Juliano Valente informou ainda que, no mês de agosto, foram detectados 3.968 focos de calor apenas em agosto, com cerca de 90% desses incêndios ocorrendo no Sul do Estado e 10% na região metropolitana. Entre esses focos, 3.563 estão no Sul e 114 na região metropolitana.
A concentração das ações de combate está ainda direcionada para o Sul do Estado, nas áreas de maior concentração, como Apuí, Novo Aripuanã, Lábrea, Manicoré e Humaitá, além de Autazes, Maúes e Iranduba.