PANCs: conheça uma alternativa de alimentação boa, mais barata e saudável - Diário da Capital: Amazonas em notícias e matérias

As opções de uma alimentação saudável, muitas vezes parece fora da realidade de diversos brasileiros, principalmente porque é visto como uma nutrição mais cara. Mas, há mais tipos de alimentos saudáveis que os convencionais.

Valdely Kinupp, mestre especialista em Botânica, produz e fornece diversos tipos de Pancs (Plantas Alimentícias Não Convencionais), aqui no Amazonas. Esses vegetais, plantas, raízes comestíveis não são comuns na alimentação popular do brasileiro, mas isso acontece por diversos motivos, e um dos principais é a falta de conhecimento a respeito das espécies de plantas que temos no nosso território.

O biólogo comenta que “atualmente, o Amazonas está muito atrasado no uso da própria diversidade da floresta. Era para várias plantas tradicionais estarem nos supermercados, assim como o açaí e o cupuaçu”.

A nutricionista Especializada em Terapia Nutricional e ativista alimentar, Camila Cyrino conta que o nosso sistema alimentar é muito influenciado com base em diversos fatores como a idade, regionalidades, paladar, cultura, aspectos socioeconômicos, por exemplo.

Isso faz com que a maioria das coisas que as pessoas consomem sejam alimentos populares, mas não necessariamente acessíveis. A nutricionista lembra que existem mais de 600 tipos de pêra, mas no Brasil, são realmente consumidas apenas uns 3 tipos. E outro fator importante, que vale ressaltar é que, por motivos climáticos e por causa do solo, essa fruta não pode ser plantada no Amazonas, portanto, precisam ser importadas de outras cidades e países.

Mesmo assim, é possível encontrá-las com mais facilidade nos mercados do que frutas regionais. Dessa forma, um atenuante para a falta de diversos tipos de alimentos na mesa dos amazonenses é a falta de conhecimento e procura por essas espécies.

“Muitas vezes sequer conhecemos esses frutos, pois não são normalmente explorados comercialmente e um grande potencial nutricional, gastronômico e econômico são desperdiçados. Quando percebemos que vegetais típicos regionais ou produzidos localmente não são conhecidos ou utilizados, é necessário um trabalho educativo de toda a comunidade, incluindo políticas públicas, e não só restrito ao meio acadêmico.”, comenta Camila.

Por conta disso, a alimentação popular é tão limitada e torna boa parte da população dependente de determinados alimentos. E quando há alta nos preços do supermercado, diversas famílias sofrem ainda mais limitações com potencial alimentício e desenvolvimento espontâneo, porém não são consumidas em larga escala ou são utilizadas apenas em determinada região.

Com base nisso, vale lembrar que, atualmente, na América latina, mais de 60 milhões de pessoas sofrem com insegurança alimentar, e no Brasil, são aproximadamente 19 milhões, segundo um documento publicado em 2021, pela ONU (Organização das Nações Unidas).

A falta de acesso a uma alimentação causada pelo desemprego e aumento da pobreza, acarretados, principalmente, pela pandemia de Covid-19 além da crise econômica no país , tem afetado diversos brasileiros. Isso fez com que alimentos embutidos e ultra processados passassem a ser mais consumidos pela população, para substituir a carne vermelha e branca, que chegaram a subir 31% em 2021.

<figure class="wp-block-image aligncenter size-large is-resized"><img src="https://diariodacapital.com/wp-content/uploads/2022/10/image-28-1024x341.png" alt="" class="wp-image-7512" width="578" height="192"/><figcaption>Foto: Divulgação</figcaption></figure>

Além de ser muito saudável, as Pancs são alimentos que podem ser encontrados de forma mais fácil, por isso, podem ser mais baratas, ou até mesmo cultivadas em casa. Os nutricionistas recomendam a inclusão das Pancs na alimentação, pois atendem os requisitos nutricionais, ajudando a diminuir o consumo de alimentos de baixo processamento, como recomenda o Guia Alimentar para a População Brasileira.

Sobre sua experiência com as Pancs, Valdely conta que desde de a infância, por ter sido criado em zona rural, ele e sua família sempre consumiram diversas espécies, que hoje são conhecidas como Pancs.

Se muitas frutas e legumes comuns do Amazonas já não são tão consumidos ou sequer conhecidos por quem é daqui, imagine essas plantas não convencionais? Muitas vezes, são plantas silvestres, que podem ser confundidas com plantas daninhas, ou um “mato” qualquer.

Mas isso é apenas falta de conhecimento dessas espécies que podem ser ricas em nutrientes, mais saudáveis que diversos alimentos cultivados com agrotóxicos, e bem mais em conta.

“Poderíamos explorar comercialmente e consumir além dos alimentos in natura, como também geleias, desidratados, conservas, licores, vinhos, cervejas, vinagres e ingredientes culinários preparados com PANC, trazendo tanto a vantagem econômica para região, quanto a maior diversidade e saúde na nossa mesa”, ressalta a nutricionista Camila.

O biólogo Valdely é um dos responsáveis pela criação do acrônimo “PANC”. “ Eu sou comilão e sempre soube o que dava pra comer mais. Aí eu fui estudando, garimpando, fiz curso de ciências biológicas, trabalhei num herbário tendo contato com a botânica para saber quem é quem desse universo rico do reino vegetal, sempre pensando na bioeconomia, no uso gastronômico e culinário das plantas”, conta Kinupp.

Boa parte das plantas tem potencial alimentício, corante, medicinal e até mesmo bioinseticida. Algumas são tradicionais, mas isso não quer dizer que são convencionais na alimentação popular.

Essas plantas são bem rústicas, mas são resistentes também, muitas são muito mais nutritivas do que as convencionais como o couve, alface, pepino, por exemplo, elas geram suas próprias mudas e propágulos, então não existe a necessidade de comprar sementes isso para as plantas regionais.

Ressaltando isso, a especialista em nutrição, Calima Cyrino conta que os nutricionistas apoiam e recomendam o consumo das Pancs na rotina alimentar pela diversidade e por muitas atenderem os requisitos nutricionais fundamentais,ajudando inclusive a diminuir o uso de alimentos processados, como recomenda o Guia Alimentar para População Brasileira.

"Uma alimentação diversa enriquece de nutrientes o nosso organismo, por isso os nutricionistas recomendam pratos coloridos e sem monotonia. Essa diversidade é facilmente possível quando se inclui as PANC na rotina alimentar, pois é diferente do modelo alimentar que padroniza o prato com arroz, feijão, carne e salada de alface, tomate, cenoura e batata. Consumir PANC é respeitar a sazonalidade e colocar no prato aquilo que a terra disponibilizou pro momento, ao invés de querer comer todos os dias do ano a mesma comida. ”, comenta Cyrino.