O anúncio parcialmente revertido da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, sobre a exclusividade de livros didáticos digitais para alunos da rede pública, reacendeu o debate sobre a preferência entre livros físicos e digitais na educação. Evidências científicas indicam que o papel é mais eficiente para promover leitura aprofundada, levantando questões sobre o impacto dessa mudança no desempenho dos alunos.
De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), com base no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), estudantes de 15 anos que cultivam o hábito de ler livros em papel pontuaram em média 49 pontos a mais na prova de leitura do Pisa 2018 em comparação com os que raramente ou nunca liam livros. Esses resultados equivalem a cerca de 10% da pontuação média total dos países na prova de leitura.
Especialistas da OCDE destacam que a leitura em papel convida a uma abordagem mais lenta e concentrada, promovendo melhor compreensão, especialmente para textos longos. A experiência sensorial do texto impresso, como manusear páginas manualmente, também favorece a concentração.
Apesar das vantagens da leitura digital, como acesso rápido a informações, cientistas expressam preocupação sobre a leitura superficial nas telas, onde a tendência é "passar os olhos" em vez de ler profundamente. A pesquisadora Naomi S. Baron destaca que a compreensão, medida pela lembrança do que é lido, geralmente é melhor no texto impresso.
O debate também enfatiza que a dicotomia entre papel e digital muitas vezes obscurece questões cruciais, como a qualidade dos livros. A professora Natalia Kucirkova argumenta que o foco deve ser na qualidade dos livros, independentemente do formato, e na exploração de como cada meio pode proporcionar experiências de aprendizado e engajamento diferentes.
Enquanto o Brasil enfrenta desafios de desigualdade no acesso à educação e tecnologia, especialistas destacam a importância de combinar experiências analógicas e digitais. O relatório da Unesco aponta que, embora o uso da tecnologia na educação seja relevante, a atenção excessiva a ela pode ter custos elevados, especialmente em países com acesso limitado.
O desafio, portanto, é encontrar uma abordagem equilibrada, combinando experiências analógicas e digitais de acordo com as habilidades a serem ensinadas. Especialistas sugerem que é crucial treinar crianças a se concentrarem, reduzirem o ritmo e mergulharem na leitura, permitindo uma transição mais fluida entre o papel e o digital.