A fortuna combinada dos cinco homens mais ricos do mundo ultrapassou a marca de US$ 869 bilhões, mais que dobrando desde 2020, conforme revela o relatório "Desigualdade S.A.", lançado pela Oxfam. Nesse mesmo período, quase 5 bilhões de pessoas viram sua situação financeira piorar, evidenciando uma desigualdade global crescente.
O estudo aponta que, mantendo a tendência atual, o mundo poderá testemunhar seu primeiro trilionário em uma década, enquanto a erradicação da pobreza pode levar mais de 200 anos. A Oxfam destaca a necessidade urgente de medidas para interromper esse ciclo de acúmulo de riqueza.
NO BRASIL
No contexto brasileiro, o relatório destaca desigualdades marcantes. O rendimento médio das pessoas brancas é mais de 70% superior ao das pessoas negras. Quatro dos cinco bilionários mais ricos do Brasil aumentaram sua riqueza em 51% desde 2020, enquanto 129 milhões de brasileiros ficaram mais pobres.
A pessoa mais rica do país detém uma fortuna equivalente à metade mais pobre da população, totalizando 107 milhões de indivíduos. A parcela de 1% dos mais ricos controla 60% dos ativos financeiros do Brasil.
O relatório, lançado durante o Fórum Econômico Mundial de 2024 em Davos, destaca que sete das 10 maiores empresas do mundo têm um bilionário como CEO ou principal acionista. Essas empresas ultrapassam o valor combinado do Produto Interno Bruto (PIB) de todos os países da África e da América Latina.
A diretora executiva da Oxfam Brasil, Katia Maia, enfatiza que a desigualdade de renda e riqueza no Brasil está interligada à desigualdade racial e de gênero. Destaca-se que quatro dos cinco bilionários brasileiros mais ricos são homens brancos.
PODER CORPORATIVO
O relatório revela o impacto do poder corporativo desenfreado, destacando a prevalência de bilionários como CEOs ou principais acionistas em grandes empresas. A Oxfam denuncia o papel de monopólios farmacêuticos na criação de um apartheid vacinal durante a pandemia, enquanto alguns bilionários enriqueciam ainda mais.
Amitabh Behar, diretor executivo interino da Oxfam Internacional, alerta que a sociedade está testemunhando o início de uma década de divisão, com bilhões de pessoas sofrendo os impactos da pandemia, inflação e guerras, enquanto as fortunas dos bilionários continuam em ascensão. Ele destaca que essa desigualdade é intencional, sendo a classe dos bilionários responsável por garantir que as corporações entreguem mais riqueza a eles próprios em detrimento de todos.
Diante desse cenário, a Oxfam destaca a responsabilidade dos governos em reduzir drasticamente a diferença entre super-ricos e o restante da sociedade. Propõe ações como assegurar saúde e educação universais, explorar setores-chave como energia e transporte, e promover impostos permanentes sobre riqueza e lucros excedentes. A organização também aponta a necessidade de reinventar os negócios, descentralizando a concentração de renda e empoderando os trabalhadores.
A Oxfam argumenta que a solução requer ações governamentais eficazes para controlar o poder corporativo, limitar salários dos CEOs, criar impostos para os super-ricos e empresas, e democratizar as regras de patentes. A entidade destaca que um imposto sobre a riqueza dos milionários e bilionários poderia gerar US$ 1,8 trilhão por ano.