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Eletrodomésticos nas cozinhas aprofundaram desigualdades, aponta pesquisa da USP

A pesquisa teve como base a análise de anúncios publicitários e manuais domésticos dos Estados Unidos

Escrito por
Redação
January 09, 2024
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Uma pesquisa conduzida pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP) analisou o processo de introdução de eletrodomésticos nas cozinhas paulistanas entre os anos 1920 e 1960. O estudo, realizado pela historiadora e educadora Laura Stocco Felicio, revelou que esse processo intensificou desigualdades sociais, de gênero e raciais, destacando disparidades entre as classes sociais e entre mulheres brancas e negras.

A pesquisa teve como base a análise de anúncios publicitários e manuais domésticos dos Estados Unidos, onde a modernização das cozinhas ocorreu de forma acelerada após a Segunda Guerra Mundial. Laura Felicio observou que as empresas de eletrodomésticos vendiam uma ideia de modernidade baseada no modelo americano, sendo as mulheres o principal público-alvo da publicidade, visto que eram vistas como as usuárias desses produtos. No entanto, os vendedores porta a porta se dirigiam principalmente aos homens, que eram considerados os responsáveis pelo orçamento familiar.

A presença acentuada de empregadas domésticas, majoritariamente mulheres negras, em lares de classe média e alta no Brasil, foi um fator que influenciou a introdução dos eletrodomésticos. Enquanto nos Estados Unidos, após a Guerra de Secessão, a industrialização acelerada levou as mulheres negras a migrarem para trabalhos nas fábricas, no Brasil a mão de obra excedente resultou na continuidade da presença de empregadas domésticas nos lares, atrasando a adoção de eletrodomésticos.

O primeiro equipamento elétrico de grande porte a ser comercializado em São Paulo foi o refrigerador, em 1929, com aumento significativo nas vendas a partir da década de 1930. No entanto, mesmo na década de 1960, apenas 22,61% dos domicílios em São Paulo possuíam geladeira, principalmente devido ao alto custo do aparelho, o que refletia a disparidade socioeconômica.

O estudo, intitulado "Modernidade e tradição: a introdução dos eletrodomésticos nas cozinhas da cidade de São Paulo (1920-1960)", foi defendido em junho de 2023 no programa de Pós-Graduação em História Social.

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