Na reta final do Dezembro Vermelho, mês dedicado à conscientização e combate ao HIV/Aids, a Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), vinculada à Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM), reforça a importância da terapia antirretroviral (Tarv) para maior qualidade de vida dos pacientes.
Conforme explica a farmacêutica da FMT-HVD, Alrilene Sant, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem oferecido uma ampla gama de medicamentos antirretrovirais para o tratamento do HIV, todos alinhados ao Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas do Ministério da Saúde.
Sant ressalta que a terapia antirretroviral (Tarv), que combina medicamentos para impedir a replicação do HIV, oferece benefícios significativos, como o aumento da expectativa de vida e a prevenção de comorbidades. Além disso, o acompanhamento no SUS é mais abrangente, permitindo que os pacientes recebam cuidados não só de infectologistas, mas também de especialistas como psicólogos, cardiologistas, dentistas e neurologistas, tudo dentro do sistema público de saúde.
Superando o estigma
Um exemplo de superação é o DJ de 32 anos, Rayner Frank, natural de Manaus e residente em Belém, que compartilha a experiência pessoal de mais de 10 anos de acompanhamento, destacando os avanços no tratamento e a importância da adesão e da testagem precoce.
Rayner, que tem sido um defensor da conscientização e da luta contra o estigma, se uniu a ações voltadas para promover a testagem rápida e garantir o acesso a medicamentos. À reportagem, ele explica que a jornada pessoal começou em 2014, quando, após participar de um trabalho de conscientização com profissionais do sexo, descobriu a sorologia positiva para o HIV.
“Foi um choque, e em um primeiro momento houve a negação de não querer começar o tratamento”, conta Rayner. Ele admite que, durante o primeiro ano, passou por altos e baixos, entre começar, parar e recomeçar o tratamento. “Na terceira vez, cerca de um ano depois, comecei o tratamento com o ‘coquetel’ que melhor me adaptei e continuo até hoje”, explica o artista.
Na época, os tratamentos disponíveis tinham diversos efeitos colaterais, e o único local de atendimento era o Hospital Tropical, o que gerava uma sensação de vergonha. Entretanto, ao longo dos anos, Rayner observou significativas melhorias no acesso ao tratamento, um reflexo da descentralização dos serviços de saúde.
“O tratamento hoje está muito mais acessível. Em Manaus, o tratamento é referência para o resto do país. Você consegue acessar o tratamento em qualquer unidade de saúde. Não está mais concentrado em um único lugar, como era antes”, explica Rayner.
O artista compartilha ainda uma mensagem de esperança para aqueles que têm medo ou vergonha de fazer o teste de HIV. “Hoje, com a descentralização do tratamento, você pode acessar facilmente os serviços em qualquer UBS. Não precisa ter vergonha. Existem até autotestes, que podem ser feitos em casa, e a medicação evoluiu muito, com quase nenhum efeito colateral. Uma ressaca é pior que o efeito dos remédios”, brinca, destacando que as medicações atuais são bem mais eficazes e menos agressivas para o corpo.
Ele também enfatiza a importância de buscar apoio. “Sempre conte com a ajuda dos seus amigos e participe de grupos de apoio. Tenha certeza de que você não está sozinho nessa luta diária”, diz Rayner, reforçando que a adesão ao tratamento e o apoio emocional são fundamentais para a saúde mental e física de quem vive com HIV.
Apoio e serviços
A farmacêutica Alrilene Sant explica que a Tarv deve ser iniciada no mesmo dia ou em até sete dias após o diagnóstico da infecção pelo HIV. “A equipe multidisciplinar da FMT-HVD faz o acolhimento e cuidado aos pacientes, estabelecendo uma abordagem individualizada, até que a pessoa esteja adaptada e familiarizada com o tratamento”, destaca.
“Para o início do tratamento, utilizamos dois tipos de medicamentos: o Dolutegravir e a combinação Tenofovir + Lamivudina, conhecidos como 2 em 1, já que são duas substâncias em um único comprimido. Esses são os medicamentos mais utilizados, mas também há outras classes de antirretrovirais disponíveis”, explica a profissional.
Alrilene Sant também chama atenção para a existência de uma nova medicação, composta por Dolutegravir e Lamivudina, comercializada sob o nome de “Dovato”. Esse medicamento permite que a pessoa viva com HIV usando apenas um comprimido ao dia.
Todos os medicamentos para a Tarv estão disponíveis gratuitamente no SUS, assim como o tratamento, que é recomendado para todas as pessoas que testarem positivo para HIV.
Além do tratamento com medicamentos, é necessária a realização de exames complementares para acompanhar a condição clínica da pessoa vivendo com HIV/Aids. A frequência desses exames é orientada pelos profissionais de saúde, considerando a condição clínica do paciente e o uso da Tarv.
Outros serviços
Equipes da FMT- HVD ofertam para os pacientes da unidade com HIV/Aids serviços de psicoterapia, com atendimento psicológico disponível após o diagnóstico. Outro serviço ofertado é o Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), que realiza exames, oferece aconselhamento e acompanha os pacientes em todo o processo médico.
A Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado está localizada na avenida Pedro Teixeira, bairro Dom Pedro, zona centro-oeste de Manaus.