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Redação
July 13, 2022
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<p>O casal "Bennifer" (Jennifer Lopez e Ben Affleck) reatou, ídolos do tempo do Furacão 2000 (Hawaianos) estão de volta às paradase a calça de cintura baixa é moda de novo, para desespero de muitos. Sim, os anos 2000 estão com tudo. E, com eles, voltaram também alguns fantasmas dessa época. Por exemplo, o culto à magreza escancarado na moda -- e a perigosa pressão em torno disso. </p>

<p>É um dos principais assuntos das redes. Vídeos com a hashtag "#y2k" ("year 2000" ou "ano 2000", em português) tem mais de 7 bilhões de visualizações no TikTok. Boa parte deles relembra o estilo e a estética de 20 anos atrás, mostrando como adaptar tudo isso à moda de hoje.</p>

<p>Para quem tem intimidade com a indústria fashion, não é nenhuma surpresa. "Na moda, existe o que chamamos de ciclo de 20 anos. A cada 20 anos, começamos a revisitar as estéticas que foram fortes 20 anos atrás", diz Sofia Martellini, analista da empresa de previsão de tendências WGSN. </p>

<blockquote class="wp-block-quote"><p>"Em 2010, estávamos olhando para os anos 90. Nos anos 90, muito do que era tendência foi tirado dos anos 70. Esse ciclo se repete."</p></blockquote>

<p>Isso acontece, ela explica, porque as gerações se renovam e o fator nostalgia cria uma visão romantizada das lembranças de infância da geração atual. </p>

<p>E a geração Z, a primeira que já surgiu digital, é especialmente nostálgica. Nascida depois da virada do milênio, essa turma cresceu junto com a dependência da internet e a importância das redes sociais. Suas lembranças de infância estão todas documentadas em formato jpg, mp3, mp4, txt etc. </p>

<p>Por isso, em 2022, o estilo dos anos 2000 ficou mais popular justamente entre os novinhos: adolescentes e jovens adultos, que mal se lembram ou nem viveram essa época. "Não é uma nostalgia de um tempo em que eles viveram. É uma ideia desse tempo", conclui Martellini. </p>

<h2>Moda antiga</h2>

<p>O culto à magreza na moda é mais antigo que qualquer hit da Britney. "A magreza nunca saiu de moda. Desde os anos 90, quando começou o 'heroin chic' [estética da magreza extrema, associada ao uso de heroína ou outras drogas], o corpo muito magro nunca deixou de ser a maior referência", afirma a analista de tendências.</p>

<blockquote class="wp-block-quote"><p>"A moda sempre reforçou um padrão de beleza inacessível: corpos sem curvas, com ossos aparentes." </p></blockquote>

<p>A frase acima é da nutricionista Fernanda Imamura, que colabora com o Programa de Atendimento, Ensino e Pesquisa em Transtornos Alimentares na Infância e Adolescência do Hospital das Clínicas da USP. </p>

<p>"Isso gerou uma legião de pessoas insatisfeitas e alimentou a indústria das dietas restritivas, que podem ser um gatilho importante pro desenvolvimento dessas doenças, quando combinados a outros fatores", ela acrescenta. </p>

<p>Só muito recentemente, por causa da pressão por mais diversidade, algumas grifes passaram a incluir modelos maiores e pensar em roupas para corpos mais reais. Mesmo assim, em muitos casos, esse debate parece ser incorporado muito mais por uma questão publicitária. </p>

<p>Um bom exemplo é a capa da revista "iD" com a modelo considerada plus size Paloma Elsesser usando a polêmica minissaia de cintura baixa da Miu Miu. O que falta em tecido na peça, fenômeno da moda no primeiro semestre de 2022, sobra em inspiração nos anos 2000.</p>

<p>A capa surpreendeu por quebrar o padrão que geralmente é associado a esse tipo de peça, mas a Miu Miu acabou sendo criticada porque, na loja, para os consumidores, só vende minissaia até o tamanho 46. </p>

<p>"As marcas estão atentas ao debate, mas o progresso na moda acontece de forma muito lenta, principalmente no mercado de luxo. Nele, há a questão da exclusividade e as grifes se apoiam no discurso de que não têm consumidores de tamanhos maiores", explica Martellini. </p>

<h2>Acessório cobiçado</h2>

<p>A saia da Miu Miu numa modelo plus size só causou tanto burburinho porque, no mundo da moda e das celebridades, uma peça tão curta e de cintura tão baixa quase sempre é vista em quem tem a barriga chapada e as pernas finas. Ou seja, em corpos muito magros.</p>

<p>Isso mostra como as roupas minimalistas de 20 anos atrás excluíam escancaradamente a maioria dos corpos. Basta ver como eram os corpos dos ícones da moda naquela época: Paris Hilton, Britney Spears, Lindsay Lohan, as irmãs Olsen (em 2004, aos 18 anos, Mary-Kate Olsen chegou a ser internada para tratar anorexia). </p>

<p>Há quem diga que, nos anos 2000, o acessório mais cobiçado da moda era a magreza. Junte a isso o início da popularização das redes sociais, um terreno perigoso de estímulo aos transtornos alimentares. </p>

<p>Blogs e páginas com informações sobre como emagrecer de forma não exatamente saudável se espalharam pela internet, e colocaram a saúde de uma geração em risco. </p>

<h2>A nova Kardashian</h2>

<p>Depois, o padrão mudou. Nos anos 2010, veio a era dos corpos volumosos -- ainda magros, mas mais curvilíneos. Uma época representada pela figura das irmãs Kardashian. </p>

<p>Mas, agora, a sensação nas redes é de que tudo está diminuindo de novo. Celebridades como Bruna Marquezine, Rafa Kalimann e Anitta perderam peso nos últimos anos. Até Kim Kardashian -- símbolo máximo do padrão curvilíneo dos anos 2010 -- adotou um visual mais magro.</p>

<p>"O emagrecimento dessas famosas não necessariamente está ligado à estética dos anos 2000. Mas, sim, trazer essa estética de volta acaba trazendo também esse corpo muito magro, que foi pauta na época", avalia a analista da WGSN. </p>

<p>"Ao mesmo tempo, essas celebridades também estão inseridas na indústria, são pressionadas e criticadas por emagrecerem. Não importa muito o que elas fizerem, vão ser sempre atacadas. É complicado querer regulamentar o corpo delas." </p>

<h2>Sinais de alerta</h2>

<p>Se, nos anos 2000, alguns pais se preocuparam pela primeira vez com a possibilidade dos filhos desenvolverem transtornos alimentares, hoje o problema afeta jovens cada vez mais novos, segundo a nutricionista Imamura. </p>

<p>Um dos fatores por trás disso, diz ela, é o contato precoce com padrões de beleza na internet. "O TikTok, por exemplo, tem muito conteúdo prejudicial, como vídeos que prometem ensinar a perder peso de forma rápida. Além disso, há corpos expostos o tempo todo. Isso gera muita comparação". </p>

<p>Em suas diretrizes, a rede diz excluir conteúdos que possam induzir transtornos alimentares. Mas nem sempre a influência acontece de forma tão direta. </p>

<p>"Os anos passam e essas coisas acabam sendo repaginadas. Hoje, é quase inviável que o 'heroin chic' dos anos 90 seja cultuado abertamente, mas existe a onda do bem-estar, do 'wellness', que também reforça um padrão limitado."</p>

<p>Se a obsessão pela vida mais saudável ou a relação com a comida gera sofrimento ou prejuízo na vida social, isso pode ser sinal de um transtorno alimentar. Mas, nos adolescentes, os indícios costumam ser mais difíceis de perceber, explica a nutricionista. </p>

<p>"Eles não necessariamente irão começar uma dieta restritiva, mas podem diminuir quantidades, cortar radicalmente frituras, doces e outros alimentos que gostam. Às vezes, isso é entendido pelos pais como uma mudança saudável. Podem aplaudir e até incentivar esse comportamento, mas é preciso ter atenção." </p>

<p>Imamura cita alguns comportamentos típicos do transtorno alimentar em pessoas mais jovens, que podem ser sinais de alerta para os pais: </p>

<ul><li>Falar com frequência sobre insatisfação em relação ao corpo;</li><li>Restringir a alimentação gradualmente ou decidir parar de comer algum grupo específico de alimentos (carboidratos, por exemplo);</li><li>Ficar mais tempo sem comer;</li><li>Ter interesse excessivo no rótulo dos alimentos, buscando informações sobre calorias e nutrientes;</li><li>Mudar repentinamente de rotina (por exemplo, passar do sedentarismo direto à prática de exercício constante e intensa)</li></ul>

<p></p>

<p>Fonte: <a href="https://g1.globo.com/pop-arte/moda-e-beleza/noticia/2022/07/13/cintura-baixa-e-culto-a-magreza-por-que-a-moda-y2k-acende-alerta-sobre-transtornos-alimentares.ghtml" target="_blank" rel="noreferrer noopener">g1</a></p>

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